Após deposição de presidente, militares garantem "governo civil" no Sudão
Conselho de transição prometeu dialogar com "entidades políticas" para preparar clima de negociações
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O Conselho militar de transição, no poder no Sudão desde a véspera da destituição do presidente Omar el-Bachir, garantiu nesta sexta-feira que vai dialogar com todas "as entidades políticas" do país e que o futuro governo será "um governo civil". "Vamos dialogar com todas as entidades políticas, com o objetivo de preparar o clima para as negociações e para a realização das nossas aspirações", declarou o general Omar Zinelabidine, membro do Conselho militar de transição.
Durante a entrevista coletiva em Cartum, Zinelabidine também garantiu que o futuro governo será "um governo civil" e advertiu que os militares não permitirão "nenhum ataque contra a segurança". Os militares disseram ainda que Omar al-Bashir não será extraditado. "Enquanto Conselho militar, não entregaremos o presidente ao estrangeiro durante nosso período no poder", afirmou o general Omar Zinelabidin, na mesma coletiva de imprensa.
Omar al-Bashir desafiava o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia. Em 2009, o TPI lançou um mandado de prisão por "crimes de guerra e contra a humanidade" em Darfur, região do oeste do Sudão afetada pela violência. Em 2010, somou-se à acusação de "genocídio".
O conflito em Darfur deixou mais de 300 mil mortos e 2,5 milhões de deslocados, segundo a ONU. Um dos países mais pobres do planeta, o Sudão ficará submetido a um toque de recolher noturno por um mês, anunciou o ministro da Defesa na quinta-feira. A derrocada de Al-Bashir não satisfez os milhares de manifestantes, que, apesar do toque de recolher entre 20h GMT e 2h GMT (17h e 23h em Brasília), continuaram nas ruas para conseguir o fim do regime.
Milhares de pessoas manifestaram, assim, sua rejeição ao novo poder militar de transição, ao passar uma sexta noite consecutiva diante do quartel-general do Exército em Cartum. Ainda não há informações sobre incidentes. "Não há nenhuma diferença para nós (...). Esta é nossa praça. Nós a tomamos e não vamos abandoná-la até que consigamos a vitória. Violamos o toque de recolher. Vamos continuar fazendo isso até obter um governo de transição", declarou à Abu Obeida, um dos manifestantes.
Nessa quinta-feira, líderes do movimento de contestação rejeitaram o golpe de Estado militar e prometeram continuar as manifestações. "O regime realizou um golpe de Estado militar apresentando os mesmo rostos (...) contra os quais nosso povo se levantou", denunciou em um comunicado a Aliança pela Liberdade e a Mudança. "Nós pedimos ao povo que continue a mobilização em frente ao quartel-general do Exército (em Cartum) e em todo país", acrescentou.