Armênia agradece aos EUA pelo histórico reconhecimento de genocídio

Armênia agradece aos EUA pelo histórico reconhecimento de genocídio

Resolução foi aprovada por uma votação de 405 a 11 e irritou Turquia

AFP e Correio do Povo

As pessoas visitam o Memorial do Genocídio Armênio Tsitsernakaberd em Yerevan, em homenagem às vítimas

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A Armênia agradeceu nesta quarta-feira os Estados Unidos depois que a Câmara de Representantes reconheceu o genocídio armênio, em uma votação simbólica e sem precedentes que fez a Turquia reagir e convocar o embaixador americano em Ancara. "A Armênia agradece profundamente os membros da Câmara de Representantes por sua votação resoluta e impressionante (...) que mostra sua fidelidade infinita com a verdade, a justiça, a humanidade, a solidariedade e os valores universais dos direitos Humanos", disse o ministério armênio das Relações Exteriores em comunicado. O Brasil fez tal reconhecimento em 2015.

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, elogiou a decisão como um "passo valiente rumo à verdade e à justiça histórica, que também oferece consolo aos milhões de descendentes dos sobreviventes do genocídio armênio", escreveu no Twitter. Um sentimento compartilhado por muitos armênios nas ruas de Erevan, capital do país. "Estou contente que os Estados Unidos tenham finalmente reconhecido o genocídio", afirmou Koriun Hakobian, um sapateiro de 69 anos. "Agora outros países seguirão o exemplo", acredita. 

Por sua vez, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan declarou nesta quarta que o reconhecimento do genocídio armênio "não tem nenhum valor". "Dirijo-me ao público americano e ao resto do mundo: esta medida não tem nenhum valor, não a reconhecemos", declarou Erdogan durante um discurso perante os deputados do seu partido em Ancara. "Na nossa fé (muçulmana), o genocídio é proibido (...) Vemos esta acusação como o maior insulto a nossa nação", acrescentou o presidente turco. Herdeiro político e cultural do Império Otomano, o país euroasiático repudia o uso da palavra "genocídio" e fala de massacres recíprocos em um contexto de guerra civil e fome, que deixou centenas de milhares de mortos nos dois lados. 

Também nesta quarta-feira, a Turquia convocou o embaixador americano em Ancara, David Satterfield, para protestar contra a "decisão sem fundamentos jurídicos adotada pela Câmara de Representantes", indicaram fontes do governo turco. "Um país cuja história é marcada por genocídios e escravidão não tem o direito de nos fazer críticas, nem o direito de nos dar lições", lançou Erdogan.

Votação história renheceu genocídio

Na terça-feira, a Câmara de Representantes americana admitiu, por ampla maioria, a classificação de genocídio armênio durante votação que provocou aplausos no plenário. A resolução foi aprovada por uma votação de 405 a 11. Foi a primeira vez que uma resolução sobre este tema foi submetida a uma votação em uma das Casas do Congresso americano. Trinta países e a maioria dos historiadores reconhecem o genocídio armênio. Segundo estimativas, entre 1,2 milhão e 1,5 milhão de armênios morreram na Primeira Guerra Mundial nas mãos de tropas do Império Otomano, então aliado da Alemanha e do Império austro-húngaro.

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, juntou-se a seus colegas "em solene lembrança de uma das grandes atrocidades do século XX". O candidato presidencial Joe Biden disse que a votação honrou a memória das vítimas. Ele twittou: "Ao reconhecer esse genocídio, honramos a memória de suas vítimas e juramos: nunca mais".

Em abril de 2017, pouco depois de chegar à Casa Branca, o presidente Donald Trump definiu o massacre dos armênios em 1915 como "uma das piores atrocidades de massa do século XX", apesar de ter evitado a palavra "genocídio". Antes de ser eleito em 2008, seu predecessor, Barack Obama, havia se comprometido a reconhecer o genocídio, o que não fez. Agora, o isso acontece num momento de tensão nas relações entre Washington e Ancara, aliados na Otan. 

A operação lançada pela Turquia em 9 de outubro no noroeste da Síria contra uma milícia curda aliada dos Estados Unidos provocou a ira de autoridades e legisladores americanos. Após o texto sobre o "genocídio", a Câmara de Representates adotou na terça um texto prevendo sanções contra as autoridades turcas ligadas à ofensiva. Trump, que inicialmente pareceu dar seu aval à ação turca ao anunciar a retirada das tropas americanas posicionadas no norte da Síria, reforçou o tom e autorizou sanções contra a Turquia. Mas estas foram retiradas na sequência de um acordo entre Ancara e Washington, prevendo o fim da ofensiva turca em troca da retirada dos combatentes curdos de uma área de fronteira da Turquia.


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