“Assunto não está encerrado”, diz Macron sobre acordo UE-Mercosul
Acerto entre blocos causou controvérsia na França

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O presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu nesta segunda-feira (6) que "o assunto não está encerrado", referindo-se à conclusão do controverso acordo comercial entre a União Europeia e os países do Mercosul.
"O assunto não está encerrado [...]. Continuaremos defendendo com força a coerência dos nossos compromissos", insistiu perante os embaixadores franceses reunidos no Eliseu.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou em 6 de dezembro a conclusão das negociações sobre esse acordo, que ainda deve ser ratificado. "É apenas uma assinatura”, insistiu o chefe do Estado. Macron lembrou que, em 2019, ele já havia testemunhado o endosso de tal acordo na cúpula do G20 em Osaka, que foi então “descartado porque as mesmas pessoas que o assinaram não respeitaram o que haviam dito que fariam”.
O polêmico tratado permitiria à UE, que já é o maior parceiro comercial do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia), exportar mais facilmente seus carros, máquinas e produtos farmacêuticos. E do outro lado, permitiria aos países sul-americanos incluídos no acordo (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) venderem para Europa produtos como carne, açúcar, mel, arroz, soja, etc. A França, principal opositora ao tratado, o considera inaceitável e estima que os agricultores do Mercosul devem respeitar as normas ambientais e sanitárias em vigor na UE para evitar concorrência desleal.
Em busca de apoio
França terá de angariar mais países do bloco a segui-la se quiser impedir que o tratado entre em vigor. Atualmente, além do barulho vindo do Palais de l'Élysée, fomentado principalmente pelos agricultores locais, também têm manifestado oposição ao pacto Áustria e Polônia e, de forma mais tímida, a Holanda. O grupo não é suficiente para barrar o processo. Apesar de algumas manifestações contra o acordo até aqui, ainda não está claro o lado que a Itália seguirá.
Após a conclusão com as equipes negociadoras, feita em Brasília, e a assinatura de um consenso pela Comissão Europeia e executivos do Mercosul, no Uruguai, a próxima etapa é a revisão jurídica e tradução do documento para a língua oficial de todos os países envolvidos. Depois disso, é preciso passar pelo Conselho e o Parlamento Europeu e, ainda antes de entrar em vigor, obter a ratificação dos parlamentos nacionais europeus e dos países do Mercosul.
Sem solução rápida e fácil
Ao falar da Ucrânia, Macron afirmou nesta segunda-feira (6) que não vê uma "solução rápida e fácil" para o conflito entre Rússia e Ucrânia e estimou que os ucranianos deveriam ter expectativas "realistas".
"Não haverá uma solução rápida e fácil na Ucrânia", disse Macron em um discurso aos embaixadores franceses reunidos no Eliseu, quase três anos depois do início do conflito com a invasão russa em fevereiro de 2022.
Ao mesmo tempo, ele observou que os ucranianos terão que conduzir "discussões realistas sobre questões territoriais e somente eles podem conduzi-las", em um momento em que a Rússia, que tomou cerca de 20% do território ucraniano, multiplica as conquistas no leste do país.
As potências europeias terão, no entanto, que "construir garantias de segurança" para a Ucrânia, estimou o chefe de Estado francês.
"Os Estados Unidos devem nos ajudar a mudar a natureza da situação e convencer a Rússia a sentar-se à mesa de negociações", acrescentou.
As especulações sobre as condições das futuras negociações de paz avançam em alta velocidade há semanas, às vésperas da tomada de posse, em 20 de janeiro, do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que prometeu negociar rapidamente um cessar-fogo entre Kiev e Moscou, sem especificar como.
"O novo presidente americano sabe bem que os Estados Unidos não ganharão nada se a Ucrânia perder" e uma "capitulação da Ucrânia não seria boa para os europeus e americanos", declarou o presidente da França, aliado da Ucrânia.
Kiev espera decisões fortes de Trump, mas também teme que a ajuda americana diminua, depois que o presidente eleito a considerou um desperdício.
O Kremlin rejeitou a ideia de um cessar-fogo e exige que a Ucrânia se renda, desista de quatro regiões parcialmente ocupadas pelos russos, além da Crimeia – anexada em 2014 – e renuncie à adesão à Otan. Condições que Kiev considera inaceitáveis.