Birmaneses voltam às ruas apesar da mobilização do Exército

Birmaneses voltam às ruas apesar da mobilização do Exército

Golpe de Estado de 1º de fevereiro derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi

AFP

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Manifestantes pró-democracia voltaram às ruas nesta segunda-feira (15) em Mianmar, mas em menor número do que nos dias anteriores, depois que a junta militar intensificou sua repressão com o envio de tropas. Em Yangon, a capital econômica, centenas de manifestantes se reuniram perto da sede do banco central no norte da cidade para convocar os trabalhadores à greve.

Alguns agitavam bandeiras vermelhas com as cores da Liga Nacional para a Democracia (NLD), o partido de Aung San Suu Kyi, enquanto outros gritavam "fora ditadura!". Apesar das ameaças, "os movimentos populares não vão parar, o primeiro passo foi o mais difícil, não temos medo de sermos presos ou alvejados", disse Nyein Moe, um guia turístico.

Mas as multidões eram menos numerosas do que nos últimos dias, notaram jornalistas da AFP. Algumas empresas enviaram e-mails a seus funcionários, instando-os a não protestarem. A presença de militares, apoiados por veículos blindados, também limitou o número de manifestantes. "Estão tentando nos assustar com o envio de soldados", disse Htet Aung, brandindo um cartaz pedindo "desobediência civil" na frente de um caminhão militar.

No dia anterior, o Exército implantou tropas em várias cidades birmanesas. "Tivemos muito medo. Achávamos que eles atirariam em nós como no passado", comentou Nyein Moe, referindo-se aos levantes populares de 1988 e 2007, que foram reprimidos com violência pelo Exército.

Outras mobilizações foram realizadas em todo o país, como em Naipidau, a capital administrativa, construída pela junta. Dezenas de pessoas foram detidas durante a manifestação, incluindo cerca de vinte estudantes, de acordo com um jornalista local. As conexões de Internet, que foram interrompidas durante a noite, foram restauradas esta manhã. Suu Kyi permanece em prisão preventiva

O golpe de Estado de 1º de fevereiro derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi e encerrou uma frágil transição democrática de dez anos. Acusada de importação ilegal de walkie-talkies, a ex-líder de 75 anos permanecerá detida até quarta-feira, após o adiamento de uma audiência originalmente marcada para hoje, informou seu advogado, Khin Maung Zaw.

Suu Kyi está "com boa saúde" e em prisão domiciliar em Naipidau, declarou a NLD neste fim de semana. O medo de retaliação está na mente de todos no país, que viveu sob o jugo dos militares por quase 50 anos desde sua independência em 1948.

As forças de segurança dispersaram os protestos com violência, atirando contra manifestantes. Uma mulher de 20 anos, gravemente ferida na semana passada, continua em estado crítico. No domingo, no norte do país, várias pessoas ficaram feridas. Uma jornalista local não soube dizer à AFP se os agentes usaram munição real ou balas de borracha. Cinco jornalistas presos na manifestação foram libertados nesta segunda-feira.

Desde o golpe, cerca de 400 pessoas foram presas, incluindo líderes políticos, ativistas, médicos e estudantes.

Vigilância cidadã

Os militares também divulgaram uma lista de sete ativistas procurados. Mandados de prisão foram emitidos, pedindo às pessoas que ajudem a polícia a encontrar esses "fugitivos". Qualquer pessoa que fornecer assistência ou abrigo estará sujeita a retaliação. Em resposta às ondas de prisões noturnas, comitês de vigilância surgiram espontaneamente, pedindo aos residentes que monitorassem seus vizinhos em caso de operações para deter opositores.

No plano internacional, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, exigiu no domingo que a junta "garanta que o direito à reunião pacífica seja plenamente respeitado", e pediu aos generais que autorizem "com urgência" a diplomata suíça Christine Schraner Burgener a "avaliar diretamente a situação".

Os chefes da junta serão "responsabilizados" pela violência, alertou Tom Andrews, relator especial da ONU para Mianmar. Washington detalhou há vários dias uma série de sanções contra vários generais, pedindo-lhes que entregassem o poder, até agora sem sucesso.

Milhares de manifestantes foram às ruas nos últimos dias, nos maiores protestos desde a "revolução de açafrão" liderada por monges em 2007. Muitos trabalhadores - ferroviários, professores, médicos - entraram em greve em apoio ao movimento, e a mídia local até relatou deserções policiais.

Os generais golpistas e seu líder Min Aung Hlaing, um pária internacional pelos abusos contra os muçulmanos rohingyas em 2017, rejeitam a legalidade das eleições legislativas de novembro, vencidas esmagadoramente pela NLD. 


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