Bombardeios prosseguem em Gaza, que aguarda ajuda humanitária após resolução da ONU

Bombardeios prosseguem em Gaza, que aguarda ajuda humanitária após resolução da ONU

Conflito destruiu grande parte de Gaza, um território estreito de 362 quilômetros quadrados e 2,4 milhões de habitantes

AFP

Israel prometeu "aniquilar" o Hamas após o ataque sem precedentes do grupo em 7 de outubro

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Os bombardeios israelenses e os combates prosseguiam neste sábado (23) na Faixa de Gaza, onde a população palestina aguarda a chegada de mais ajuda humanitária, após a aprovação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU.

Depois de cinco dias de negociações árduas para evitar o veto dos Estados Unidos, o Conselho de Segurança aprovou na sexta-feira um texto que exige o envio "imediato" e "em larga escala" de ajuda humanitária ao território palestino. O documento evita pedir um "cessar-fogo", uma condição inaceitável para Israel e Estados Unidos, grande aliado do país em guerra, mas pede a criação das "condições para um cessar duradouro das hostilidades".

A aplicação do texto, no entanto, gera muitas dúvidas: a ajuda humanitária que entra no território palestino a conta-gotas a partir do Egito e da passagem de Kerem Shalom está muito longe da dimensão das necessidades da população, que está à beira da fome, segundo a ONU. Antes da votação da resolução, Israel, que revista os caminhões que entram em Gaza, criticou a maneira como as agências da ONU distribuem ajuda.

O ministro israelense das Relações Exteriores, Eli Cohen, insistiu no tema na sexta-feira. "A decisão do Conselho de Segurança destaca a necessidade de vigiar para que as Nações Unidas sejam mais eficazes na transferência de ajuda humanitária e de garantir que a ajuda chegue a seu destino e não passe às mãos dos terroristas do Hamas", escreveu na rede social X.

"Um passo no caminho correto"

O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansur, afirmou que a resolução é "um passo no caminho correto", mas que deve ser acompanhado por um "cessar-fogo imediato". O Hamas, que governa Gaza e está classificado como organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, considerou a resolução "insuficiente" e afirmou que "não responde à situação catastrófica criada pela máquina de guerra sionista".

Israel prometeu "aniquilar" o Hamas após o ataque sem precedentes do grupo em 7 de outubro, quando quase 1.140 pessoas foram assassinadas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado nas informações divulgadas pelas autoridades israelenses. Os milicianos também sequestraram quase 250 pessoas e 129 permanecem retidas em Gaza, segundo Israel.

A resposta militar israelense, com bombardeios aéreos e uma ofensiva terrestre, matou mais de 20.000 pessoas, a maioria mulheres e menores de idade, e deixou mais de 50.000 feridos, segundo o Hamas, que governa Gaza desde 2007.Segundo o Exército, 139 militares israelenses morreram nas operações terrestres, iniciadas em 27 de outubro.

O Exército divulgou imagens neste sábado que mostram soldados avançando entre ruínas e atirando em Issa, sul da cidade de Gaza, em meio a disparos de armas automáticas. "Várias infraestruturas terroristas foram localizadas, incluindo edifícios utilizados como instalações militares pelo Hamas, e foram destruídas", afirma uma nota.

O Ministério da Saúde do Hamas relatou um bombardeio israelense contra o campo de refugiados de Nuseirat e informou que o ataque deixou pelo menos 18 mortos. O Exército israelense "prossegue com os disparos de artilharia pesada" na cidade de Gaza e em Jabaliya, ao norte, assim como em Deir al Balah, no centro, acrescentou a pasta.

Os bombardeios continuam perto de Rafah e em Khan Yunis, no sul. "Minha mensagem para o mundo é que olhem para nós, que nos vejam, que vejam que estamos morrendo. Por que não prestam atenção?", lamenta Wala Al Medini, uma deslocada que foi obrigada a abandonar o campo de Bureij (centro), após um aviso de evacuação do Exército israelense.

Risco de fome

O conflito destruiu grande parte de Gaza, um território estreito de 362 quilômetros quadrados e 2,4 milhões de habitantes. Os bombardeios israelenses forçaram 1,9 milhão de pessoas a abandonar suas casas, o equivalente a 85% da população do território, segundo a ONU. Após mais de dois meses de guerra, apenas nove dos 36 hospitais do território estão em funcionamento, mas de forma parcial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Apesar da nova resolução do Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, criticou os "grandes obstáculos" para distribuir a ajuda devido à "forma como que Israel está efetuando esta ofensiva". Guterres recordou que 136 funcionários da ONU morreram em 75 dias. Apenas um cessar-fogo humanitário permitirá "começar a responder às necessidades desesperadas da população de Gaza e acabar com seu pesadelo", acrescentou.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que "a fome é iminente em Gaza". No campo diplomático, Egito e Catar prosseguem com os esforços para conseguir uma nova trégua, depois do cessar-fogo de uma semana do fim de novembro que permitiu a libertação de 105 reféns e 240 palestinos detidos em Israel.

Mas os dois lados mantêm as exigências: o Hamas quer o fim dos combates antes de qualquer negociação sobre os reféns; Israel descarta um cessar-fogo antes da "eliminação" do movimento islamista palestino.


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