Castillo se considera vencedor ao ampliar vantagem na apuração de votos no Peru

Castillo se considera vencedor ao ampliar vantagem na apuração de votos no Peru

Resultado oficial ainda não saiu, e demora ocorre pela contagem nas zonas rurais

AFP

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O candidato de esquerda Pedro Castillo se apresenta como o vencedor do acirrado segundo turno presidencial de domingo passado no Peru, onde a apuração a conta-gotas não aponta um postulante oficialmente eleito: o professor da área rural lidera com 50,20% dos votos, contra 49,7% da candidata de direita Keiko Fujimori.

Em uma mensagem para simpatizantes na sede do partido Peru Libre, no centro de Lima, Castillo disse que seus observadores consideram certa a vitória no segundo turno. Ele pediu a seus seguidores que não caiam em provocações e inclusive agradeceu as felicitações por sua "vitória" enviadas por países da América Latina.

"Seremos um governo respeitoso da democracia, da atual Constituição e faremos um governo com estabilidade financeira e econômica. Quero expressar em nome do povo peruano às personalidades de diversos países que esta tarde expressaram saudações ao povo peruano", acrescentou, em referência a mensagens de "embaixadas e governos da América Latina e de outros países", disse Castillo na terça-feira à noite.

Castillo tem 50,20% dos votos, contra 49,79% da rival, após a apuração de 98,3% das urnas, mas a disputa permanece aberta, segundo fontes do Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE).

Como nas três últimas eleições presidenciais no Peru, quase tão acirradas como a atual, a apuração oficial demora por conta dos votos das zonas rurais, das áreas de selva e do exterior, onde estão registrados um milhão de eleitores.

No exterior, Fujimori tem até o momento 66,48% dos votos, contra 33,51% do candidato de esquerda, com 89,47% destas cédulas apuradas. "Mas reverter a diferença será muito difícil, devem faltar mais votos por contar do Peru que do exterior", declarou o analista Hugo Otero.

Ele se refere ao fato de que o ONPE ainda precisa contabilizar pouco menos de 2% das urnas do Peru, a maioria de zonas remotas que podem representar mais votos para Castillo que aqueles que ainda faltam do exterior. "Acredito que Castillo vai ganhar, mas temos que esperar até que o ONPE anuncie o resultado oficial", analisa Otero.

"Mentiras, mentiras" 

Pouco depois do fim da votação no domingo, a filha do detido ex-presidente Alberto Fujimori liderava a apuração, mas com o avanço da contagem dos votos Castillo se aproximou e virou o resultado: na terça-feira à noite a vantagem era de mais de 100 mil votos.

Fujimori denunciou na segunda-feira "indícios de fraude". O ONPE nega a possibilidade de fraudes, assim como a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que classificou o processo de normal e transparente.

"Mentiras, mentiras, mais do mesmo: O Fujimorismo", afirma o título de um comunicado divulgado pelo partido de Castillo, no qual destaca que "não é um segredo a antiga prática do fujimorismo sobre fraudes eleitorais".

Entre outras coisas, o partido de Castillo recorda "a vingança da senhora Keiko Fujimori por não aceitar os resultados do ano de 2016", quando perdeu a votação para Pedro Pablo Kuczynski por uma margem estreita (50,12% contra 49,88%). Após a impugnação da época das atas, o ONPE demorou sete dias para declarar seu rival oficialmente presidente do Peru.

Enquanto os partidários de Castillo começam a cantar vitória, quase 200 seguidores de Fujimori, em sua maioria das classes média e alta de Lima, se reuniram na terça-feira diante da sede do ONPE para denunciar "fraude". A incerteza aumenta em um país abalado por crises políticas que resultaram em quatro presidentes desde 2018, três deles em apenas cinco dias em novembro do ano passado.

Votos decisivos 

De acordo com o departamento do ONPE para o exterior, três países concentram quase 60% dos eleitores peruanos: Estados Unidos, Chile e Espanha.

Como 64% das urnas dos Estados Unidos e 81% das urnas do Chile já foram contabilizadas, o destino de Fujimori depende em boa parte da Espanha, onde 152.000 peruanos estavam registrados para votar - apenas 3% destas cédulas foram apuradas. Três em cada quatro peruanos apoiaram Fujimori nos Estados Unidos. No Chile ela recebeu 56% dos votos, contra 44% de Castillo.

As eleições deixaram evidente que o país não tem apenas uma disputa política, mas também entre Lima e o interior do país, relegado por séculos e muito afetado pela recessão econômica provocada pela pandemia. Na região andina de Cusco, a antiga capital do império inca, Castillo recebeu 83% dos votos, e em Puno, às margens do lago Titicaca, 89%. Nestas áreas predominam as populações quechua e aymara, respectivamente.

 


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