Choques na fronteira greco-turca: UE tenta dispersar refugiados

Choques na fronteira greco-turca: UE tenta dispersar refugiados

No final de fevereiro, após anúncio de Erdogan sobre a abertura de suas fronteiras, milhares de migrantes seguiram em direção à Grécia

AFP

"Não vão à fronteira", disse UE em recado direcionado aos migrantes

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Novos confrontos ocorreram na fronteira entre a Grécia e a Turquia entre migrantes, que atiraram pedras, e policiais gregos, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo, ao mesmo tempo em que a União Europeia anunciou aos refugiados que suas portas estão fechadas.

Após o embate, centenas de migrantes se reuniram diante do posto fronteiriço de Pazarkule (chamado de Kastanies, do lado grego), gritando "liberdade", "paz" e "abram as portas", segundo o relato de um fotógrafo da AFP. Alguns ficavam em frente às cercas com arame farpado, onde gritavam: "Queremos viver em paz".

"Queremos apenas uma vida melhor, uma melhor situação, viver em liberdade", conta à AFP o iraniano Amir Masud, que protegia o rosto com uma máscara para se proteger do gás lacrimogêneo.

No último 28 de fevereiro, após anúncio do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sobre a abertura de suas fronteiras em direção ao território europeu, milhares de migrantes seguiram em direção à Grécia, o que lembrou a crise migratória de 2015.

Erdogan conversou com a chanceler alemã, Angela Merkel, nesta sexta. Ela esteve à frente das negociações que culminaram no polêmico acordo, em 2016, no qual a Turquia se comprometia a impedir o trajeto de migrantes em situação ilegal à Grécia em troca de ajuda financeira.

Na conversa, Erdogan "indicou que os mecanismos existentes entre a UE e a Turquia em relação às migrações não funcionam e devem ser reexaminados", segundo a presidência turca.

A UE enviou nesta sexta uma mensagem aos migrantes para tentar convencê-los a não ir para a fronteira greco-turca. "Quero enviar uma mensagem clara: não vão à fronteira. A fronteira não está aberta", declarou o chefe da Diplomacia europeia, Josep Borrell, após uma reunião dos ministros das Relações Exteriores dos países membros, em Zagreb.

Transtorno em Lesbos

As autoridades gregas acusaram as forças turcas nesta sexta de terem lançado bombas lacrimogêneas e de fumaça no lado grego da fronteira. Segundo as autoridades gregas, os respectivos turcos distribuem também material para cortar as telas e estruturas que buscam impedir o prosseguimento dos migrantes para o lado grego.

Como a fronteira terrestre está totalmente fechada, centenas de migrantes conseguiram chegar pelo mar até as ilhas do mar Egeu desde a última semana.

Em um contexto já particularmente tenso nas últimas semanas, onde os habitantes das ilhas não concordam com a construção de novos acampamentos para a acolhida de refugiados, as novas chegadas causaram uma onda de fúria contra os que prestam serviço comunitário e os jornalistas. Em Lesbos, dois habitantes foram condenados nesta sexta a três meses de prisão condicional por atos de violência cometidos no último final de semana.

À medida que milhares de migrantes se encontram atualmente bloqueados na fronteira greco-turca, acampamentos improvisados estão sendo formados do lado turco. Muitos migrantes dormem ao ar livre apesar do ar frio. Os mais sortudos, geralmente as famílias com crianças, constroem cabanas improvisadas.

Enganados pela Turquia

Alguns expressavam nesta sexta a sua crescente frustração contra a Turquia, ao considerar que foram enganados por autoridades turcas que lhes fizeram acreditar que poderiam cruzar facilmente a fronteira. "Nos disseram: 'Ou cruzam ilegalmente, ou vão embora daqui'. Mas não viemos para cruzar a fronteira ilegalmente", disse o iraniano Sina à AFP. "Estamos aqui porque a Turquia nos autorizou".

Ônibus estacionados não muito distantes do posto fronteiriço de Pazarkule se disponibilizavam nesta sexta a levar migrantes até o rio Meriç (Evros, em grego), que separa a Turquia da Grécia. Um sistema de exploração de migrantes foi instalado e os vendedores ambulantes turcos vendem garrafas de água em preços dez vezes mais altos, além de alimentos e materiais para a fabricação de abrigos temporários, consumidos por migrantes afegãos, paquistaneses e de outras nacionalidades.

Os novos confrontos ocorrem após o acordo firmado, em Moscou, de cessar fogo na região de Idlib, no noroeste sírio, entre Erdogan e o presidente russo Vladimir Putin.


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