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Como a crise EUA-Venezuela avança lentamente

Estratégia é vista como uma tentativa de forçar uma mudança política sem uma invasão em grande escala

Venezuela reforçou presença militar nas fronteiras
Venezuela reforçou presença militar nas fronteiras Foto : SCHNEYDER MENDOZA / AFP

O atual agravamento da tensão entre Washington e Caracas se desenvolve em câmera lenta, com vazamentos de imagens de navios supostamente secretos, ou de trajetórias de aviões, ou a confirmação por parte do presidente Donald Trump de que a CIA voltou a intervir na região. A tática historicamente era mantida em segredo.

"É meio engraçado porque, claro, no passado, como durante a Guerra Fria, as intervenções da CIA na América Latina eram encobertas, certo?", questionou Michelle Paranzino, especialista em América Latina e professora associada no Colégio Naval Militar dos Estados Unidos, à AFP. "Não está muito claro qual é o aspecto encoberto aqui se o presidente está reconhecendo isto abertamente", acrescentou.

Trump justificou as operações da CIA citando duas razões: o presidente venezuelano Nicolás Maduro seria um suposto líder do narcotráfico e a Venezuela estaria libertando detentos para enviá-los aos EUA.

Vazamentos militares e o "Navio Fantasma"

Paralelamente à confissão de Trump, diversos vazamentos de informações militares parecem indicar que o governo americano não tem controle total sobre a narrativa. Usuários da internet têm postado itinerários de aeronaves militares americanas perto da costa venezuelana, utilizando rastreadores simples como o Flightradar24.

O Pentágono confirmou que um bombardeiro B-52, com capacidade nuclear, sobrevoou a região em 15 de outubro, para garantir a capacidade de "responder a qualquer eventualidade ou desafio". Além disso, a imprensa publicou fotografias de um suposto "navio fantasma" com unidades especiais a bordo. A embarcação seria o MV Ocean Trader, um navio com capacidade de "camuflagem" para ser confundido com um navio mercante, segundo o site Task&Purpose.

Opções de intervenção e desejo de renúncia de Maduro

Segundo analistas de segurança do site Stimson, o governo dos Estados Unidos tem três opções principais: "Continuar com os ataques contra navios no Caribe, executar ataques direcionados dentro da Venezuela ou uma invasão da Venezuela com o objetivo de mudar o regime". Os analistas consideram todas as opções "ruins", dado o histórico intervencionista na região.

No entanto, a estratégia de Trump é vista como uma tentativa de forçar uma mudança política sem uma invasão em grande escala. "Acredito que seria racional ou razoável assumir que o objetivo é conseguir que Maduro renuncie sem precisar efetuar uma intervenção militar completa para removê-lo", explica Michelle Paranzino.

Mudança no comando militar

O desenvolvimento lento da crise produziu um momento inesperado: a confirmação, na sexta-feira (17), de que o almirante Alvin Holsey, principal responsável por supervisionar os ataques dos EUA contra supostas lanchas do narcotráfico no Caribe, deixará o posto de chefe do Comando Sul para se aposentar.

Holsey, que tem mais de três décadas de experiência, estava no cargo há apenas um ano. O secretário Peter Hegseth agradeceu publicamente o serviço do almirante.

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