Coreias apresentam inédita candidatura conjunta à lista de Patrimônio da Humanidade

Coreias apresentam inédita candidatura conjunta à lista de Patrimônio da Humanidade

Além de um esporte nacional, luta coreana é uma prática cultural muito popular nos dois países

AFP

"Ssirum", na Coreia do Norte, e "Ssireum", na Coreia do Sul - tem um significado profundo para os coreanos

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As duas Coreias apresentaram nesta segunda-feira uma candidatura conjunta para a inclusão da luta tradicional coreana na lista do Patrimônio da Humanidade, que foi aceita pela Unesco, uma iniciativa sem precedentes que marca uma nova etapa na aproximação entre os dois países. "O fato de que as duas Coreias concordaram em unir suas candidaturas respectivas não tem precedentes", declarou Audrey Azoulay, diretora geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), à AFP após a aceitação da inscrição, decidida em uma reunião do comitê ad hoc da organização.

"Esta candidatura conjunta é um primeiro passo histórico no caminho para a reconciliação intercoreana e nos recorda o poder extraordinário do patrimônio cultural como vetor de paz e ponte de união entre os povos", completou Azoulay.

Reunido em Port-Louis (Maurício), o Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial decidiu inscrever a luta tradicional coreana na lista representativa de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, depois que Seul e Pyongyang aceitaram unir suas candidaturas. A luta tradicional coreana - chamada "Ssirum", na Coreia do Norte, e "Ssireum", na Coreia do Sul - tem um significado profundo para os coreanos. Vinculada fundamentalmente à terra e à agricultura é, ao mesmo tempo, um esporte nacional e uma prática cultural muito popular nos dois países.

A inscrição conjunta foi possível graças à vontade das duas Coreias, que aceitaram, com a mediação da Unesco, a fusão das candidaturas. Também foi possível graças aos contatos entre Azoulay e o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-In, em outubro em Paris, e a "intercâmbios similares" com Pyongyang nas últimas semanas, informou a Unesco em um comunicado. A organização está trabalhando em outros projetos concretos de reconciliação, incluindo a redação de um dicionário etimológico coreano que identifica as práticas linguísticas no Norte e no Sul.

"De certo modo, apenas nós podemos avançar de maneira decisiva neste momento", afirmou uma fonte diplomática da Unesco, lembrando as sanções internacionais que afetam qualquer projeto econômico com a Coreia do Norte. Está também em discussão a criação de uma Reserva da Biosfera na Zona Desmilitarizada entre as Coreias do Norte e do Sul. Durante décadas, seguiram-se os incidentes entre as duas Coreias na fronteira. Há projetos para permitir o acesso, o uso e a gestão conjunta das águas transfronteiriças na península, aponta a Unesco.

Tecnicamente, as duas Coreias continuam em guerra, depois que o conflito de 1950-53 terminou com um armistício em vez de um tratado de paz. Apesar de suas diferenças, porém, o Sul democrático e o Norte comunista compartilham a mesma língua, cultura e tradições que remontam a milhares de anos, o que deu lugar a uma rivalidade nas inscrições de candidatura da Unesco nos últimos anos.

Ao longo da semana, o Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial examinará outras inúmeras candidaturas que vão desde o reggae jamaicano até a romaria mexicana de Zapopán, passando pela festa popular espanhola das "tamboradas", ou as técnicas para a elaboração do perfume na cidade francesa de Grasses.

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