De sabotagem à retirada de tropas: especialista cita possíveis cenários após a rebelião na Rússia

De sabotagem à retirada de tropas: especialista cita possíveis cenários após a rebelião na Rússia

Revolta no território russo fere a imagem que Vladimir Putin tenta passar de seu governo

Lucas Eliel

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A rebelião na Rússia na última semana foi curta, mas provocou um alvoroço no país governado por Vladimir Putin. A revolta partiu do grupo Wagner, uma organização de mercenários que vende sua força para enfrentar a Ucrânia na invasão. O analista de Relações Internacionais com foco em Segurança Internacional e diretor de pesquisa do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (Isape), Felipe Dalcin, cita três possíveis cenários após a insurreição no território russo. 

No sábado, o chefe do grupo Wagner, Yevgeni Prigozhin, ameaçou a Rússia com rebelião armada. Suas tropas ocuparam a cidade de Rostov, no sul do país, e iniciaram uma marcha para Moscou. No meio do caminho, ele deu meia-volta e desistiu em razão de um telefonema do presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko. 

Segundo o pacto intermediado pelo ditador, Prigozhin receberia asilo em Minsk. Em troca, um processo criminal contra ele e os mercenários do grupo Wagner foi arquivado. Os rebeldes têm opção de se juntar a Prigozhin na Bielorrússia ou serem incorporados às Forças Armadas da Rússia.

O movimento do grupo Wagner, na percepção do especialista, foi mais como uma "greve" e não tinha o objetivo de destituir Putin, por exemplo. Isto porque os mercenários lucram muito com o apoio do Chefe de Estado russo. Prigozhin apresenta diferentes queixas acerca da Rússia, afirmando essencialmente que o país não o apoia devidamente na investida contra a Ucrânia. 

Confira as três possibilidades depois da rebelião, conforme o analista: 

1) A situação entre o grupo Wagner e a Rússia fica estável 

Nesta circunstância, os mercenários continuam lutando ao lado da Rússia na Ucrânia e se submetem aos interesses de Putin, levando em consideração a tentativa fracassada de causar danos maiores ao governo. Inevitavelmente, depois da rebelião, a gestão russa deve tratar a organização com muito mais atenção, e se o grupo Wagner quiser prosseguir em sua atuação, deverá ser bem mais cauteloso. 

2) O grupo Wagner se retira da guerra contra a Ucrânia 

Os mercenários têm diminuído significativamente no conflito entre os países vizinhos. "O grupo Wagner teria por volta de 40 mil soldados e teria perdido já 10 mil na linha de frente contra as tropas ucranianas", ressalta Dalcin. A Rússia não é o único país onde a organização trabalha, o que reforça este possível quadro. 

3) O grupo Wagner começa a sabotar a Rússia no conflito 

Esta seria a ação com mais prejuízo para o governo de Putin. Os mercenários poderiam evitar a linha de frente por conta de um conluio com países ocidentais. Essa intenção pode ser bem perigosa para o grupo, segundo Dalcin, pois a Rússia pode entender o ato como um ataque direto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e responder com armamento nuclear. 

Dalcin explicita que o contexto de guerra é complexo e pode mudar drasticamente de forma rápida. Portanto, pode acontecer algo fugindo completamente às possibilidades anteriormente citadas. Independentemente do futuro, para o analista, a revolta do grupo Wagner fere bastante a governabilidade de Putin, pois o presidente vende muito a imagem de líder consensual na Rússia. 

A utilização dos mercenários é uma medida com prós e contras para as intenções dos governos em guerras. Ao passo que dão apoio, eles primordialmente estão preocupados com dinheiro, fornecendo serviços a quem paga mais no final das contas. Muitas vezes eles não possuem escrúpulos, ferindo direitos humanos (violentando mulheres, fazendo massacres) e não costumam ser responsabilizados por seus atos. 

Desde o início do conflito, o número de vítimas do conflito na Ucrânia é uma incógnita. Conforme dados divulgados este mês pelo país, ao menos 10.368 civis morreram e 14.404 teriam ficado feridos desde a invasão iniciada em fevereiro de 2022. O balanço, contudo, tem várias dificuldades em ser exato, tendo em conta fatores como ocultação de crimes, força dos ataques e adversidades no acesso a áreas da guerra. 


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