Desarmamento do Hezbollah passa a ser opção sobre a mesa no Líbano
Movimentos ficaram muito enfraquecidos por suas respectivas guerras contra Israel, avaliam especialistas

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O desarmamento do movimento libanês Hezbollah, impensável tempos atrás, agora emerge como uma opção realista ante as pressões americanas sobre Beirute e a fragilidade do grupo islamista após sua guerra com Israel, avaliam especialistas. 'O impacto da guerra claramente mudou a situação', afirma David Wood, do grupo de reflexão International Crisis Group. 'O Hezbollah pode se orientar em direção ao desarmamento e, até mesmo, participar dele voluntariamente, mais que se opor', acrescenta.
O movimento islamista e seu arsenal, considerado superior ao do Exército libanês, também podem se ver afetados nas negociações iniciadas no sábado entre Estados Unidos e Irã. Embora se centrem no programa nuclear de Teerã, provavelmente irão englobar outras questões sobre o papel regional do Irã e seu apoio a grupos como o Hezbollah e o palestino Hamas.
Ambos os movimentos ficaram muito enfraquecidos por suas respectivas guerras contra Israel. No caso do Hezbollah, um acordo de cessar-fogo no final de novembro encerrou mais de um ano de hostilidades e dois meses de conflito aberto.
O acordo prevê a retirada do Hezbollah e o desmantelamento de sua infraestrutura militar do sul do Líbano, onde está a fronteira com Israel. Mas os Estados Unidos pedem ao governo libanês que vá mais além e consiga 'o desarmamento do Hezbollah e de todas as milícias', afirmou recentemente uma enviada de Washington, Morgan Ortagus.
O movimento, muito influente na política libanesa, é o único grupo armado que manteve seu arsenal com o término da guerra civil em 1990, escorando-se na suposta necessidade de 'resistência' contra Israel.
O novo presidente libanês e ex-chefe do Exército, Joseph Aoun, se comprometeu a garantir 'o monopólio das armas' ao Estado, mas disse que a solução deve ser resolvida mediante 'o diálogo'.
O papel do Irã
O ex-chefe de Inteligência no sul do Líbano, o general aposentado Ali Chahrour, afirma à AFP que o Hezbollah 'não tem nenhum interesse em entrar em uma guerra' com Israel ou 'em um enfrentamento com o Estado' depois dos reveses sofridos. Vários dirigentes do grupo afirmaram recentemente que estão dispostos a dialogar sobre uma estratégia de defesa nacional na qual se aborde a questão de seu arsenal, mas não a entregá-lo.
Hanin Ghaddar, especialista do Washington Institute, o enfrentamento com o Hezbollah é 'inevitável'. E a única alternativa para as autoridades libanesas para não enfrentar esse desarmamento, 'seria Israel ficar a cargo'. Essa analista, crítica ao movimento islamista, considera que seus responsáveis tentam ganhar tempo, enquanto tentam apaziguar uma facção mais radical.
Ao mesmo tempo e, apesar do cessar-fogo, Israel mantém tropas em cinco posições no sul do Líbano e lança ataques contra o país vizinho, afirmando que tem como alvo instalações do Hezbollah. 'Os israelenses dão argumentos ao Hezbollah para que mantenha suas armas', diz o general Chahrour.
Katim Bitar, da universidade Sciences Po de Paris, o cenário mais provável é que o Hezbollah entregue uma parte de seu armamento pesado ao Exército libanês. 'Isso dependerá em grande parte das negociações iraniano-americanas', acrescenta. 'Sem o sinal verde do Irã, duvido que o Hezbollah aceite'.
Para David Wood, algumas das opções contempladas são o desmantelamento completo da infraestrutura do Hezbollah ou a entrega de seu arsenal ao Exército em troca da incorporação de seus combatentes às Forças Armadas. Mas em todos os casos, afirma, 'o enfoque mais seguro é atuar com prudência e levar o tempo' necessário. 'É possível que o Irã aceite abandonar seu apoio a seus aliados regionais, e também ao Hezbollah, em troca de concessões nas negociações com os Estados Unidos', considera.