Dia da Vitória: combatente gaúcho de 104 anos relembra atuação da FEB na 2ª Guerra Mundial

Dia da Vitória: combatente gaúcho de 104 anos relembra atuação da FEB na 2ª Guerra Mundial

Nascido em Cruz Alta e morador de Porto Alegre, capitão Elmo Diniz atuou na reconquista da Europa, que completa 80 anos nesta quinta-feira

Rodrigo Thiel
Capitão Elmo Diniz, aos 104 anos, é um dos combatentes brasileiros da 2ª Guerra Mundial ainda vivos

Capitão Elmo Diniz, aos 104 anos, é um dos combatentes brasileiros da 2ª Guerra Mundial ainda vivos

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“A coisa mais estúpida do ser humano é a briga. Quem acerta a briga não vai brigar, mas manda os outros morrerem nela”. Aos 104 anos, os olhos do capitão Elmo Diniz são uns dos poucos ainda vivos que presenciaram um dos períodos mais traumáticos da história: a Segunda Guerra Mundial. Gaúcho nascido em Cruz Alta e atualmente morador de Porto Alegre, ele fez parte da Força Expedicionária Brasileira (FEB) entre novembro de 1944 e junho de 1945, e atuou na reconquista da Europa, data que completa 80 anos nesta quinta-feira e é celebrada como “Dia da Vitória”.

Suas memórias carregam um sabor agridoce de ter lutado no lado vitorioso e, ao mesmo tempo, ter guardado traumas daquilo que presenciou durante seu período na grande guerra. “Lembro de uma vez que estava conversando com um brasileiro e acertaram um tiro nele e ele caiu no meu pé. Também vi o (Benito) Mussolini pendurado pelas pernas, de cabeça para baixo, já morto, em um posto de combustíveis. Eu lutei pela liberdade dos povos”, recordou o combatente.

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Oito meses na Europa

Ao todo, o capitão Elmo ficou cerca de oito meses com a FEB na Europa. Entretanto, sua participação na Segunda Guerra Mundial iniciou muito antes. Em 1942, pouco depois de completar 20 anos, foi movido para sargento e enviado para guarnecer a costa brasileira em Salvador, em função do torpedamento feito pelos submarinos pertencentes aos exércitos do Eixo no Nordeste.

“Lá eu fiquei até 1943, quando me mandaram para o Rio de Janeiro e me incluíram na FEB. No dia 23 de novembro de 1944 eu embarquei no transporte de guerra americano USS Maine, com cerca de 5,5 mil homens dentro do navio. Foi uma viagem de 15 dias até Nápoles, na Itália. Lá, me deram uma benção divina, que era abastecer as unidades. Então eu ficava atrás”, completou.

Segundo ele, a situação do país no qual a FEB atuou era difícil nos últimos meses de guerra. “O pessoal não tinha nem o que comer. Lembro também das dificuldades que foi percorrer aquele país com um saco de quase 15 kg nas costas. A única vantagem é que, quando a gente parava, tinha onde sentar. Também pegamos um frio intenso, com 16 graus negativos. E nesse clima nós tivemos que chegar em Monte Castelo”, falou o ex-combatente.

Para os praças da FEB, a guerra terminou antes do dia 8 de maio. “Nós fomos nos aproximando da Alemanha até que a 148ª divisão alemã se entregou para os brasileiros. Foi ali que nos avisaram que a guerra acabou para nós, no dia 30 de abril. Só que como nós éramos subordinados dos americanos, eles priorizaram os soldados deles para voltarem antes. Nisso, ficamos mais de um mês vagando na Itália e na Europa. Foi aí que eu visitei Mônaco, depois da guerra”, disse.

A volta para o Brasil ocorreu apenas no final de junho. Capitão Elmo guarda em seu acervo, mantido com a ajuda da esposa, Eunice Diniz, e de alunos do Colégio Militar de Porto Alegre, uma foto da chegada do navio com os combatentes no Rio de Janeiro. “Chegando no Brasil, lembro do povo nos barcos nos aplaudindo e acompanhando o navio. Quando desembarcamos, as pessoas tentavam arrancar tudo o que podia da gente como souvenir. Eu fiquei só com a camisa que eu estava. O resto roubaram tudo”, brincou.

Vida pós-guerra

Após atuar na Segunda Guerra Mundial, o Elmo seguiu destacado pelo Exército no Rio de Janeiro, onde realizou cursos para dar sequência na vida militar. Em 1947, acabou por ser promovido e mandado para Cruz Alta, sua cidade natal. Ele ainda atuou junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contribuindo no mapeamento fotográfico do Brasil. Perguntado sobre a sua vitalidade, o capitão Elmo finaliza: “É muito honroso, mas a vida começa a ficar difícil depois de uma certa idade”, finalizou.


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