As joias da "Coroa" roubadas do Museu do Louvre no último domingo, avaliadas em mais de R$ 550 milhões, enfrentam um destino incerto e possivelmente destrutivo, segundo especialistas em crimes de arte. Há um forte risco de que os artefatos já tenham sido ou venham a ser derretidos ou divididos em peças menores para venda.
"Você nem precisa colocá-las em um mercado clandestino, é só colocá-las em uma joalheria", disse Erin Thompson, professora de crime de arte no John Jay College of Criminal Justice. Ela alertou que as peças menores podem ser transformadas em novos colares ou brincos e "serem vendidas na rua do Louvre". A prática de quebrar bens roubados de alto perfil tem se tornado comum como forma de ladrões cobrirem seus rastros e monetizarem o roubo.
Dificuldade de venda no mercado
Apesar do alto valor patrimonial, especialistas apontam que as joias históricas são difíceis de monetizar intactas. Christopher Marinello, fundador da Art Recovery International, destacou que seria "incrivelmente difícil" encontrar um mercado para vender os artefatos completos após a ampla divulgação de suas fotos.
Para Marinello, o desmonte das peças é provável: "Ao dividir, eles esconderão o roubo". O advogado acrescenta que os itens se tornariam ainda mais "indetectáveis" se fossem retirados da França e passassem por cortadores de joias em outros países. No entanto, esses itens são frequentemente vendidos por uma fração do valor original, pois quebrar peças de alto perfil remove seu valor histórico.
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Ceticismo sobre a monetização
Robert Wittman, ex-investigador sênior do FBI, expressou ceticismo sobre a capacidade dos ladrões de monetizar os artefatos roubados (que incluem um colar de esmeralda, duas coroas e broches reais do século XIX). Ele observou que o ouro usado em peças centenárias pode não ser tão puro quanto o procurado hoje, e as gemas ainda podem ser identificáveis por sua clareza. "A real arte em um roubo de arte não é o roubo, é a venda", afirmou Wittman, que considera que os ladrões costumam ser "melhores criminosos ou ladrões do que empresários".
Scott Guginsky, vice-presidente da Jewelers' Security Alliance, concorda que os artefatos, dada a sua idade e qualidade, não poderiam ser movidos no mercado aberto ou em casas de leilões. Contudo, ele suspeita que os ladrões têm um plano de venda, mesmo que decidam esperar a suspeita passar: "Não consigo vê-los roubando sem ter uma ideia do que querem fazer. Sempre há uma pessoa disposta a comprar joias roubadas."
Rastreabilidade e chance de recuperação
A rastreabilidade das peças é dificultada pela sua antiguidade. Sara Yood, do Comitê de Vigilância de Joalheiros, observou que gemas mais novas podem ter inscrições a laser para identificação, mas "como são peças históricas, é bastante improvável que tenham essas características identificadoras". Especialistas alertam que as gemas maiores podem ser recortadas a ponto de se tornarem irreconhecíveis.
Sobre a recuperação, especialistas como Thompson mencionam que ladrões contratados em roubos de museus "quase sempre são pegos". Alguns ladrões do passado fizeram exigências de resgate ou esperam por uma recompensa de seguradoras (que pode chegar a 10% do valor segurado). As joias do Louvre, no entanto, aparentemente não eram seguradas privadamente.
Embora Wittman acredite que pistas encontradas no Louvre podem aumentar as chances de recuperação, Marinello tem uma visão mais sombria: "Eu acho que eles vão pegar os criminosos. Mas eu não acho que vão encontrá-los com as joias intactas."
Falha de segurança reconhecida
Em testemunho ao Senado francês na quarta-feira (22), a diretora do Louvre, Laurence des Cars, reconheceu a "terrível falha" na segurança do museu. Ela afirmou que ofereceu sua renúncia do cargo, o que foi recusado pelo ministro da Cultura. Des Cars apontou que o Louvre tinha uma "prejudicial falta de câmeras de segurança" e outras "fraquezas" que foram expostas pelo roubo.