Em carta a Tusk, May pede adiamento do Brexit até 30 de junho

Em carta a Tusk, May pede adiamento do Brexit até 30 de junho

Líder conservadora acrescentou ainda que não está "disposta" a estender o Artigo 50 do Tratado da UE além dessa data

AE e AFP

A Comissão Europeia reagiu imediatamente, considerando essa prorrogação até 30 de junho um "grave risco político e jurídico"

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A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, confirmou as expectativas e anunciou na Câmara dos Comuns britânica que escreveu uma carta nesta manhã ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, informando que busca um adiamento do Brexit até 30 de junho. A líder conservadora acrescentou ainda que não está "disposta" a estender o Artigo 50 do Tratado da UE além dessa data. "Não acredito que interesse a ninguém participarmos das eleições ao Parlamento Europeu", afirmou.

Durante a sessão semanal de perguntas no Parlamento, May também informou que o governo voltará a apresentar propostas na Câmara britânica para um terceiro "voto significativo" do acordo do Brexit negociado com a União Europeia.

Na carta a Tusk, contudo, a premiê escreve que a posição assumida pelo presidente da Casa, John Bercow, de que 10 Downing Street não poderia trazer ao plenário o mesmo projeto de lei ou um texto muito parecido com o que que já foi derrotado na semana passada, "tornou impossível convocar uma nova votação antes do Conselho Europeu", que começa amanhã em Bruxelas, na Bélgica.

Risco político

A Comissão Europeia reagiu imediatamente, considerando essa prorrogação até 30 de junho um "grave risco político e jurídico". "Qualquer prorrogação oferecida ao Reino Unido deveria durar até 23 de maio de 2019, ou deveria ser significativamente mais longa e requerer a realização de eleições europeias" no país, afirma o documento da Comissão, ao qual a AFP teve acesso.

Bruxelas considera duas opções, que têm relação com as eleições europeias previstas para acontecerem de 23 a 26 de maio. O Reino Unido estaria obrigado a participar delas, se continuar sendo membro do bloco até 2 de julho, início da nova legislatura na Eurocâmara. A primeira opção seria "uma breve ampliação técnica até 23 de maio de 2019", em torno de um mês a menos do que o planejado por May, enquanto a segunda opção seria "uma prorrogação longa para além dessa data e ao menos até o fim de 2019".

"Qualquer outra opção - como, por exemplo, uma prorrogação até 30 de junho de 2019 - implicaria graves riscos jurídicos e políticos para a União Europeia (UE) e traria algumas das incertezas atuais do Reino Unido" para seus 27 sócios, acrescenta o documento. A Comissão também pede às autoridades europeias que adotem "um único adiamento, em vez de uma série de adiamentos, que manteria a UE no limbo durante um longo período de tempo".

Reação dura em casa e incertezas

Na terça-feira, o porta-voz de May já havia indicado que ela pretendia escrever para Tusk sobre uma extensão do Artigo. As reações dos deputados não demoraram, antecipando uma possível rebelião do Parlamento contra a decisão do Executivo. "A primeira-ministra parece estar seguindo um curso de ação que seu próprio adjunto descreveu como imprudente na semana passada. Theresa May está mais uma vez desesperada para impor uma escolha binária entre seu acordo e um Brexit sem acordo, apesar de o Parlamento descartar claramente ambas as opções na semana passada", lançou no Twitter o trabalhista Keir Starmer. "O país não está frustrado com o Parlamento. Está frustrado com a fraqueza desta primeira-ministra, com um governo apático e com o desastre total que os conservadores fizeram do Brexit", acrescentou o liberal-democrata Tom Brake em um comunicado.

Os outros 27 países-membros devem concordar com a prorrogação por unanimidade. Alguns já advertiram que, para aprovar a medida, querem saber qual é o propósito da premiê. O negociador europeu Michel Barnier alertou na terça-feira que "uma prorrogação é uma extensão da incerteza". "Tem um custo político e econômico", recordou. Mais cedo nesta quarta, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, havia dito que não espera uma decisão sobre o Brexit na reunião de cúpula da UE que acontecerá na quinta e sexta-feiras em Bruxelas. Se Londres não conseguir o adiamento, a "opção padrão" seria uma saída "dura", pois o acordo negociado entre o governo britânico e as autoridades europeias foi rejeitado duas vezes pelo Parlamento de Westminster. 


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