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Em meio à crise política, Milei lança livro cantando rock

"Abraço" dos militantes libertários a Milei ocorre em um momento de profunda incerteza econômica e política

Milei cantou músicas de rock e uma canção folclórica judaica
Milei cantou músicas de rock e uma canção folclórica judaica Foto : Luis Robayo / AFP

Vestido de preto e com imagens de bombardeios projetadas no palco, o presidente argentino Javier Milei lançou seu livro "La Construcción del Milagro" (A Construção do Milagre) em Buenos Aires. Milei cantou músicas de rock e uma canção folclórica judaica, tentando reviver para a imagem de economista e astro de sua campanha de 2023.

A apresentação acontece no pior momento de seus quase dois anos de política ultraliberal, com o governo atravessando uma crise política agravada pela renúncia de um candidato chave nas eleições legislativas de outubro por supostos laços com o narcotráfico. A turbulência política e financeira forçou o presidente a buscar um resgate financeiro dos Estados Unidos.

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Show no palco e Ataques à oposição

Com uma voz rouca e gutural, Milei iniciou a apresentação com sucessos do rock argentino, como "Panic Show" e "Demoliendo Hoteles", antes de apresentar sua Banda Presidencial. Após cantar cerca de dez músicas, ele direcionou o discurso para a política, repudiando um ataque antissemita recente e atacando a oposição.

"Não vamos permitir esta xenofobia que a esquerda está tentando instalar", disse, antes de entoar a canção folclórica "Hava Nagila". Em seguida, incentivou a plateia a cantar "Cristina Tobillera [Tornozeleira]", uma referência à prisão domiciliar da ex-presidente Cristina Kirchner, sua arqui-inimiga condenada por corrupção. Os quase 15.000 presentes na Movistar Arena aplaudiram fervorosamente ao ver imagens projetadas do ex-presidente americano Donald Trump e do ativista de extrema direita Charlie Kirk.

Crise de governança

O "abraço" dos militantes libertários a Milei ocorre em um momento de profunda incerteza econômica e política. Na semana passada, o Congresso rejeitou dois de seus vetos a leis de financiamento (universidades e saúde pediátrica), um revés que, somado à derrota eleitoral provincial em setembro, espalhou dúvidas nos mercados sobre a governabilidade. Essa instabilidade provocou uma corrida cambial, temporariamente sufocada por promessas de ajuda dos EUA.

Apesar da crise, um dos economistas amigos de Milei na Banda Presidencial, Bertie Benegas Lynch, escreveu no prólogo do livro que o presidente "provou que apenas o interesse pessoal e o individualismo fazem florescer a paz e a prosperidade".

No entanto, a percepção popular sobre a economia é dura. Enquanto Milei e seus apoiadores falam em "milagre econômico argentino sendo estudado em universidades do mundo", a realidade de parte da população é de dificuldade: "Eu acreditei que [Milei] sabia algo de economia, mas ele não sabe nada," disse um açougueiro local.

O governo Milei conseguiu um histórico superávit fiscal e reduziu a inflação, mas a um custo social elevado: desvalorização do peso, diminuição drástica do consumo e retirada de subsídios, o que encareceu o acesso à moradia, saúde e educação.