"Ensaios em larga escala" estão entre os próximos passos de vacina russa

"Ensaios em larga escala" estão entre os próximos passos de vacina russa

Estudo publicado pela revista The Lancet informou que a Sputnik-V contra o coronavírus desenvolveu uma resposta imunológica sem efeitos colaterais graves

AFP

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Ainda que os resultados da vacina russa, a Sputnik-V, tenham sido satisfatórios nas fases 1 e 2, com uma produção de anticorpos em todos os participantes dos testes, a substância precisará passar por outras etapas igualmente importantes para ganhar credibilidade mundial.  

Os autores do estudo publicado nesta sexta-feira pela revista The Lancet afirmaram que entre os próximos passos estão a realização de ensaios em larga escala e com um acompanhamento mais longo dos resultados. Além disso, será preciso fazer a comparação com um placebo, tudo isso para estabelecer a inocuidade ao longo do tempo e a eficácia da imunização diante da Covid-19. Este é o objetivo da fase 3, que incluirá 40 mil participantes de várias idades e com diferentes níveis de risco. 

Cautela na comunidade científica 

Esses resultados são "animadores, mas são em pequena escala" e não esclarecem se a vacina provoca uma resposta imune entre os idosos, os mais vulneráveis ao coronavírus, reagiu Naor Bar-Zeev, especialista em vacinas da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, nos Estados Unidos.

"Provar que as vacinas contra a Covid-19 são seguras será crucial, não apenas para que sejam aceitas (por parte da população), mas também para a confiança na vacinação em geral", acrescentou ele em um comentário publicado na The Lancet.

Este estudo mostra que "até agora vai tudo bem", mas uma "resposta imunológica não significa, necessariamente, proteção contra a Covid-19", disse Brendan Wren, professor de Microbiologia e Medicina Tropical na London School of Hygiene and Tropical Medicine.

Ceticismo e críticas 

Em 11 de agosto, as autoridades russas anunciaram que sua vacina entrava na terceira e última fase dos ensaios clínicos. Moscou disse, porém, que não esperaria os resultados deste estudo, do qual "milhares de pessoas participam", porque sua intenção era homologar a vacina em setembro. O anúncio foi recebido com ceticismo por muitos pesquisadores e por alguns países, como a Alemanha, que duvidaram de sua eficácia e segurança, principalmente pela falta de dados públicos sobre os testes realizados até o momento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu à Rússia que siga os protocolos estabelecidos e que cumpra "todas as fases" necessárias para desenvolver uma vacina segura. Moscou denunciou essas críticas como uma tentativa de deslegitimar a investigação russa. O presidente Putin foi além e afirmou que a vacina, desenvolvida pelo governo e pelo Instituto de pesquisa Gamaleia, garante "imunidade de longa duração" contra o novo coronavírus.

Substância 

A Sputnik V consiste em dois componentes diferentes, administrados em duas injeções com intervalo de três semanas, conforme o estudo publicado na revista The Lancet. É uma vacina de "vetor viral": usa dois adenovírus humanos (uma família muito comum de vírus) transformados e adaptados para combater a covid-19. Quando o adenovírus modificado penetra nas células da pessoa vacinada, esta fabrica uma proteína típica do SARS-CoV-2, ensinando seu sistema imunológico a reconhecê-lo e combatê-lo, de acordo com um dos autores do artigo, Denis Logounov, do Instituto Gamaleia. 

A publicação se baseia em dois pequenos estudos, conduzidos com duas formulações diferentes da Sputnik V, entre 76 voluntários adultos saudáveis, entre 18 e 60 anos. Eles foram realizados entre 18 de junho e 3 de agosto por pesquisadores dos Ministérios russos da Saúde e da Defesa e financiados pelo primeiro. Ambos concluíram que nenhum dos dois componentes da vacina causou "efeitos indesejáveis graves" e que sua administração sucessiva "gera a produção de anticorpos", incluindo "anticorpos neutralizantes" da Covid-19.

Vacinas pelo mundo 

Segundo a OMS, existem 176 projetos de vacinas em andamento no mundo, com 34 em fase de ensaio clínico. Isso significa que já começaram a ser testados em humanos. Destes, oito estão na fase três, os mais avançados.

 


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