Espanha encerra campanha eleitoral marcada pelo avanço da extrema-direita

Espanha encerra campanha eleitoral marcada pelo avanço da extrema-direita

Com 10% das intenções de voto, partido Vox tem ideologia ultranacionalista, anti-imigração e antifeminista

AFP

Partido Vox apresenta sua campanha como uma "reconquista" da Espanha e de seus valores tradicionais

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A Espanha encerra nesta sexta-feira uma acirrada campanha para as eleições legislativas de domingo, em meio aos apelos do atual primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez, para que o país impeça o avanço da extrema-direita, que alterou o panorama político do país. Quase inexistente na política espanhola desde o fim da ditadura de Francisco Franco, em 1975, corrente política pode entrar com força no Congresso espanhol após as eleições de domingo com o partido Vox.

Com uma ideologia ultranacionalista, anti-imigração e antifeminista, as pesquisas mais recentes atribuem mais de 10% das intenções de voto ao Vox, que em 2016 recebeu apenas 0,2%. "Ninguém acreditava que Trump seria eleito presidente dos Estados Unidos e ele conseguiu. Ninguém pensava que Jair Bolsonaro poderia ser presidente do Brasil", advertiu Sánchez em uma entrevista ao jornal El País.

Dez meses depois da moção de censura contra seu antecessor, o conservador Mariano Rajoy, Sánchez lidera todas as pesquisas. Mas a governabilidade é complicada em um Congresso dividido em dois grandes blocos: de um lado os socialistas do PSOE e o partido Podemos (esquerda radical), do outro o Partido Popular (conservadores), Cidadãos (centro-direita) e Vox.

"As maiorias são muito improváveis tanto de uma como de outra", afirmou Francisco Camas, do instituto Metroscopia, para quem os votos dos partidos regionais catalães e bascos podem ser cruciais.

O exemplo andaluz

Mas o PSOE tem o pé atrás, ainda mais depois das eleições regionais da Andaluzia em dezembro, quando a esquerda perdeu um reduto histórico após um acordo entre PP, Cidadãos e Vox, que obteve seu primeiro triunfo nas urnas. As pesquisas da época subestimaram o resultado do partido de extrema-direita que, na atual campanha, atrai grandes multidões e gera muita expectativa nas redes sociais. "Temos um risco real, que a direita se una à extrema-direita e consigam fazer na Espanha o que estão fazendo na Andaluzia", insistiu Sánchez.

A incerteza é elevada: 4 milhões de pessoas se declaram indecisas, recorda Camas, e há muita volatilidade, especialmente na direita, envolvida em uma batalha para saber quem lidera o campo conservador. "Se você realmente quer derrotar Sánchez, a coisa responsável, patriótica, é votar no PP", afirmou ao jornal ABC Pablo Casado, o jovem que assumiu o comando do partido no lugar Rajoy.

"Podem acontecer mudanças de último minuto no apoio aos partidos que afetariam a probabilidade das diferentes opções de governo", destaca Antonio Barroso, analista da Teneo Intelligence.

Catalunha: tema central

Ameaçados pelo Vox, que apresentou sua campanha como uma "reconquista" da Espanha e de seus valores tradicionais, tanto Casado como Albert Rivera, líder do Cidadãos, elevaram o tom contra Sánchez. Questões como a desaceleração econômica, as aposentadorias, o elevado índice de desemprego (14,5%) ou a incerteza europeia pelo Brexit ficaram em segundo plano.

A Catalunha centralizou os debates, um ano e meio depois da tentativa de secessão da região, em 2017, e com o julgamento por rebeldia em curso contra 12 políticos independentistas. Depois de chegar ao poder com o apoio do partido Podemos, dos nacionalistas bascos e dos separatistas catalães, Sánchez tentou apaziguar o conflito e iniciou uma negociação com o presidente regional Quim Torra.

Embora o diálogo não tenha prosperado - os independentistas derrubaram os orçamentos de Sánchez, que convocou eleições antecipadas -, a aproximação incendiou a direita, que a transformou em sua principal arma. Em um ambiente acirrado, Casado chamou Sánchez de "traidor", "criminoso", "desleal" e de ser "um perigo público para a Espanha", enquanto Rivera declarou que retirá-lo do poder é uma "emergência nacional".

O mesmo tom foi adotado na quinta-feira pelo líder do Vox, Santiago Abascal, em um comício em Valencia, onde pediu aos eleitores que escolham entre "a continuidade histórica da Espanha ou o caos e a violência".

Ao contrário da tentativa de diálogo de Sánchez, a direita propõe suspender a autonomia regional, como Rajoy fez após a tentativa frustrada de secessão, e em alguns casos que os partidos separatistas sejam declarados ilegais. Estes partidos, no entanto, podem ser cruciais para a reeleição de Sánchez, que já repetiu diversas vezes que não cederá a sua principal reivindicação: um referendo de autodeterminação.


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