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Especialistas da ONU exigem que Nicarágua responda por 'crimes de lesa-humanidade'

Governo de Ortega e Murillo eliminaram a oposição interna após os protestos de 2018 que deixaram cerca de 300 mortos

Um grupo de especialistas da ONU exigiu, nesta quinta-feira (30), que o governo de Daniel Ortega e Rosario Murillo responda por "graves violações" de direitos humanos, incluindo "crimes de lesa-humanidade", ao denunciar pela primeira vez na Assembleia Geral a repressão "sistemática" na Nicarágua.

Ortega e Murillo assumiram o poder absoluto, restringiram liberdades e eliminaram a oposição interna após os protestos de 2018 que deixaram cerca de 300 mortos, considerados por Manágua como uma tentativa de golpe de Estado patrocinado por Washington.O Grupo de Especialistas em Direitos Humanos sobre a Nicarágua pediu aos membros da ONU que exijam "responsabilidades" do casal Ortega e Murillo, que são acusados de cometer "execuções extrajudiciais", "desaparecimentos forçados" e "torturas".

O líder do grupo, Jan-Michael Simon, também acusou os copresidentes de "despojar da nacionalidade" e de bens opositores e críticos, além de estender a repressão fora da Nicarágua com "crimes internacionais".

"A comunidade internacional não deve se limitar a ser testemunha; deve adotar medidas concretas - ações legais, processos judiciais e sanções seletivas -", disse em comunicado Ariela Peralta, integrante do grupo.

O painel lembrou em seu relatório o assassinato na Costa Rica, em junho, do major aposentado Roberto Samcam, voz crítica no exílio e em cujo crime os especialistas não descartam uma participação do governo e do Exército nicaraguenses."O governo construiu uma máquina de perseguição que segue seus cidadãos no exterior" e os exilados "vivem em constante medo", acrescentou no comunicado Reed Brody, especialista do painel.

No relatório, apoiado pela União Europeia e por países latino-americanos como Chile, Brasil e México, o grupo, órgão independente com mandato do Conselho de Direitos Humanos da ONU, insta que a Nicarágua "preste contas" perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ).Apoiada por Venezuela, Cuba, Coreia do Norte, China, Irã e Rússia, a representante nicaraguense na Assembleia, Eleane Pichardo, rejeitou o relatório ao afirmar que carece "de legitimidade" e justifica "agressões" contra a Nicarágua.

Os Estados Unidos anunciaram que estudam aplicar tarifas de até 100% à Nicarágua pelas violações de direitos humanos.Segundo relatórios da oposição, Ortega, um ex-guerrilheiro de 79 anos no poder desde 2007 e que também governou nos anos 1980, enfrenta problemas de saúde, razão pela qual Murillo, de 74 anos, realiza uma disputa interna para garantir a sucessão.

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