Ex-advogado chama Trump de “racista, vigarista e trapaceiro” no Congresso

Ex-advogado chama Trump de “racista, vigarista e trapaceiro” no Congresso

Michael Cohen deu um depoimento explosivo nesta quarta-feira

AFP

Ex-advogado chamou Trump de racista e trapaceiro

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Michael Cohen, advogado de longa data de Donald Trump, atacou seu ex-cliente afirmando que o presidente dos Estados Unidos é "racista, vigarista e trapaceiro" em seu depoimento explosivo dado ante o Congresso americano nesta quarta-feira. Dirigindo-se ao Comitê de Supervisão e Reforma da Câmara, Cohen - que foi condenado à prisão por crimes relacionados em parte com seu trabalho para Trump - expressou arrependimento por sua lealdade ao presidente no passado. "Estou envergonhado por ter escolhido participar dos atos ilícitos de Trump ao invés de ouvir minha própria consciência", afirmou Cohen.

"Ele é um racista. Ele é um vigarista. Ele é um trapaceiro", enfatizou. Cohen disse que estava apresentando provas "irrefutáveis" dos erros de Trump, incluindo um cheque de "suborno" pago a duas mulheres pouco antes da eleição de 2016. Ele também revelou que sabia de antemão em 2016 que o WikiLeaks publicaria material para prejudicar a candidata democrata Hillary Clinton. Além disso, denunciou que Trump dirigiu as negociações para construir uma Trump Tower em Moscou durante a campanha eleitoral de 2016, apesar de negar qualquer vínculo comercial com os russos.

Segundo Cohen, Trump ordenou implicitamente que ele mentisse sobre o projeto, e indicou que os advogados da Casa Branca "revisaram e editaram" seu testemunho em 2017, quando mentiu ao Congresso sobre as negociações para a Trump Tower. Mas Cohen, de 52 anos, também afirmou que não tinha provas diretas de que Trump ou sua campanha de 2016 firmaram acordo com os russos, tema que está sendo investigado pelo Departamento de Justiça e pelo Congresso. 

 

"Está mentindo!"

O presidente do Comitê de Supervisão da Câmara, o democrata Elijah Cummings, disse que o testemunho de Cohen era "profundamente perturbador e deveria ser preocupante para todos os americanos". "Se é tão explosivo quanto parece, creio que é o começo de um processo de julgamento político", declarou à rádio NPR o deputado democrata Jackie Speier, outro membro do painel.

Mais cedo, Trump, que está no Vietnã para uma segunda cúpula com o líder norte-coreano Kim Jong Un, reagiu ao depoimento de Cohen vazado na imprensa, tentando desacreditar seu ex-advogado. "Michael Cohen foi um dos muitos advogados que me representaram (infelizmente)", tuitou, afirmando que Cohen foi desabilitado por um tribunal estadual por "mentir e fraudar". "Ele está mentindo para reduzir o tempo de sua prisão", disse.

Cohen parecia tenso quando começou seu depoimento perante o Comitê - controlado pelos democratas desde janeiro - a única audiência aberta e televisionada das três marcadas esta semana. Na terça-feira, Cohen passou oito horas a portas fechadas no Comitê de Inteligência do Senado, que está investigando a interferência da Rússia nas eleições de 2016 e o comportamento de Trump durante a campanha.

Cohen vai testemunhar na quinta-feira em uma sessão fechada no Comitê de Inteligência da Câmara, que também analisa a interferência russo nas eleições, bem como as relações comerciais de Trump com os russos. O testemunho de Cohen recebeu uma enxurrada de contra-ataques dos republicanos. O deputado Matt Gaetz, aliado de Trump, tuitou uma ameaça velada a Cohen na terça-feira.

"Sua esposa e seu sogro sabem sobre suas namoradas? Talvez esta noite seja um bom momento para esta conversa. Eu me pergunto se ela vai permanecer fiel quando você estiver na prisão. Ela está prestes a saber muitas coisas", escreveu Gaetz. Os democratas expressaram indignação com o tuíte, acusando Gaetz de intimidação ilegal de testemunhas.

 

Sem "evidência direta"

Sobre a intromissão russa nas eleições de 2016, Cohen disse que não tinha "nenhuma evidência direta" de conluio entre a campanha de Trump e Moscou. "Mas tenho minhas suspeitas", declarou. Ele afirmou que Trump foi informado antecipadamente sobre uma reunião entre sua campanha e uma advogada russa que vendia "lixo" sobre Hillary Clinton, sua rival na eleição. E declarou que estava presente em meados de 2016 quando o consultor da campanha republicana Roger Stone chamou Trump para informá-lo que o WikiLeaks estava prestes a publicar informações prejudiciais sobre Clinton, que havia recebido de hackers russos.

"O Sr. Trump respondeu dizendo 'não seria ótimo?'", contou Cohen. Ele também afirmou que os Estados Unidos viram Trump cortejar supremacistas e intolerantes brancos, mas que no privado "é ainda pior". "Uma vez ele me perguntou se eu poderia dizer um país dirigido por uma pessoa negra que não fosse uma 'merda'. Isso foi quando Barack Obama era presidente dos Estados Unidos", disse Cohen.

Além disso, revelou que Donald Trump deu uma falsa desculpa médica para evitar ser enviado para combater no Vietnã. "Você acha que sou imbecil? Não ia mesmo para o Vietnã", teria dito Trump a seu advogado.

Trump recebeu uma dispensa médica para não ter que prestar serviço no Vietnã, em 1968, devido a esporões em seus calcanhares. "Mas quando eu pedi os registros médicos, ele não me deu nada e disse que não havia feito cirurgia... Disse que não responderia às perguntas dos jornalistas, e que diria que recebeu uma dispensa médica". "Acho irônico que hoje esteja no Vietnã", acrescentou, referindo-se à cúpula entre Trump e o líder norte-coreano Kim Jong Un em Hanói.


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