Família de Franco quer assumir responsabilidade por corpo do ditador espanhol

Família de Franco quer assumir responsabilidade por corpo do ditador espanhol

Neto do general diz que cemitério comum não possui segurança suficiente

AFP

Atualmente, corpo e Francisco Franco está no mausoléu "Valle de los Caídos"

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A família de Francisco Franco vai assumir a responsabilidade pelo cadáver do ditador que o governo espanhol quer exumar até o final do ano do mausoléu onde repousa, afirmou neste sábado um de seus netos. "Claro que nós iremos cuidar do corpo do meu avô. Nós não iremos deixá-lo nas mãos do governo", indicou ao jornal conservador La Razón Francis Franco, um dos sete netos do general que dirigiu a Espanha entre 1939 e 1975.

O governo socialista espanhol aprovou na sexta-feira um decreto para exumar o corpo do ditador do mausoléu nas proximidades de Madri, uma decisão que tem provocado divergências políticas no país, que tem dificuldades para lidar com questões do passado.

Para concretizar a medida, que tem a oposição da família do ditador e da oposição conservadora, o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez optou por um decreto-lei, que no mês de setembro deverá ser aprovado pela Câmara Baixa do Parlamento, onde os socialistas, claramente minoritários, esperam alcançar a maioria com o apoio da esquerda radical do partido Podemos e dos nacionalistas bascos e catalães. A exumação dos restos mortais que estão no "Valle de los Caídos", um imponente conjunto monumental a 50 km de Madri, provavelmente acontecerá no fim do ano, segundo a vice-primeira-ministra Carmen Calvo.

Após a exumação, a solução lógica seria enviar os restos mortais para o túmulo que a família Franco tem no cemitério El Pardo, na região de Madri. Os descendentes do "generalíssimo" são contrários à medida, mas Carmen Calvo explicou que o governo está preparado para todas as eventualidades. Se a família não indicar um novo local ou continuar contrária à medida, o Executivo "decidirá para qual local digno e respeitoso serão levados os restos mortais de Franco". A família parece resignada. "Acho que eles vão exumar à força e depois veremos se foi feito legalmente", disse Francis Franco, acrescentando que a família não pretende contestar a medida porque "gastar dinheiro contra um governo é perda de tempo".

O neto de Franco rejeitou a ideia de enterrar os restos mortais de seu avô ao lado de sua esposa, Carmen Polo, que morreu em 1988 e foi enterrada no cemitério de El Pardo. "Não há segurança, meu avô não pode ser enterrado lá", disse ele. Depois de sua morte, o corpo do general Franco, vencedor da Guerra Civil (1936-1939), está no "Valle de los Caídos". O local, um impressionante complexo a 50 km de Madri, tem uma basílica com uma cruz de 150 metros de altura. O militar que governou o país de 1939 a 1975 está enterrado no altar da basílica sob uma laje sempre coberta por flores frescas, assim como o fundador do partido fascista Falange, José Antonio Primo de Rivera.

No mesmo complexo foram sepultados quase 27 mil combatentes franquistas e 10 mil opositores republicanos, motivo pelo qual o ditador apresentou o "Valle" como um local de "reconciliação". Os críticos, no entanto, o consideram um insulto às vítimas da repressão franquista, porque os corpos dos republicanos, retirados de cemitérios e valas comuns, foram levados até o local sem o consentimento de suas famílias. Além disso, o conjunto monumental foi construído por quase 20.000 presos políticos, entre 1940 e 1959.

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