FMI prevê maior contração da economia argentina (-3,5%), mas menor inflação, em 2024
Instituição financeira publicou um relatório detalhado no qual se mostra satisfeita com o plano 'motosserra' do presidente ultraliberal Javier Milei
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O Fundo Monetário Internacional (FMI) piorou nesta segunda-feira sua previsão de crescimento para a Argentina, estimando uma contração de 3,5% em 2024, e melhorou a de inflação anual média para 233%, mas alertou para o risco de que a recessão se prolongue 'alimentando tensões sociais'.
A instituição financeira publicou um relatório detalhado no qual se mostra satisfeita com o plano 'motosserra' do presidente ultraliberal Javier Milei para cortar drasticamente os gastos do Estado, mas faz algumas ressalvas e pede mais reformas tributárias.
'Avanços impressionantes foram feitos para alcançar o equilíbrio fiscal geral e agora deve-se dar prioridade a continuar melhorando a qualidade do ajuste', afirmou Gita Gopinath, a número dois do FMI, depois que o conselho executivo do organismo aprovou na quinta-feira a oitava revisão do acordo de crédito acordado com o país.
Essa aprovação permitiu um desembolso imediato de cerca de 800 milhões de dólares (4,33 bilhões de reais, na cotação atual).
'Devem seguir os esforços para reformar o imposto de renda' das pessoas físicas, 'racionalizar os subsídios e os gastos tributários e fortalecer os controles de gastos' públicos, acrescenta em um comunicado publicado nesta segunda-feira, no qual estima que serão necessárias 'reformas mais profundas dos sistemas tributário, de pensões e de distribuição de renda'. Além disso, na sua opinião, 'as políticas monetárias e cambiais devem evoluir para continuar consolidando o processo de desinflação e melhorar ainda mais a cobertura das reservas' monetárias.
Na última atualização, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano piora de -2,75% previsto em abril para -3,5%. Mas espera-se uma mudança de tendência durante o segundo semestre, 'à medida que os ventos contrários derivados da consolidação fiscal se atenuem, os salários reais comecem a se recuperar e os investimentos se recuperem gradualmente'.
Em termos gerais, o Fundo está satisfeito com a evolução da economia e da inflação. A previsão de aumento anual médio dos preços passa de quase 250% para 232,8%, de acordo com este último relatório.
A inflação mensal cai para 4% e diminuirá 'ainda mais a médio prazo', aponta o FMI. E prevê que as reservas se mantenham inalteradas.- 'Consenso social' -Os riscos do programa de crédito pelo qual a Argentina recebe 44 bilhões de dólares (238,85 bilhões de reais) em 30 meses em troca de aumentar suas reservas internacionais e reduzir o déficit fiscal, 'foram moderados, mas continuam elevados', adverte o Fundo.
O FMI estima que o governo de Milei 'afastou firmemente a economia de uma crise total e de uma hiperinflação', mas o panorama não está isento de riscos. As condições externas podem se tornar menos favoráveis e 'a recessão pode se prolongar, alimentando tensões sociais e complicando a implementação do programa', alerta.
Milei conseguiu na semana passada a aprovação no Senado, por margem estreita, de um pacote de reformas polêmicas, mas ainda terá que passar pelo crivo da Câmara de Deputados.
O FMI está preocupado com possíveis novas demoras legislativas 'porque podem minar os esforços de estabilização e recuperação', mas acredita que se deve buscar o 'consenso social' levando em conta 'o frágil panorama social e político'.Metade da população argentina vive na pobreza, milhares de pessoas perderam o emprego e a inflação corrói as pensões e o poder aquisitivo das famílias.