Gases causadores do efeito estufa atingem nível recorde em 2017
Concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera voltaram a aumentar
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"O período favorável para a ação está prestes a acabar", advertiu Taalas, a alguns dias da COP24 sobre o clima, que acontece em dezembro, em Katovice, na Polônia. Nesse encontro, a comunidade internacional deve finalizar o Acordo de Paris para atingir o objetivo de limitar o aquecimento climático a menos de 2°C, ou seja, 1,5°C em relação ao nível da Revolução Industrial.
"A tendência é preocupante. Há uma diferença entre a ambição e a realidade", reconheceu o professor Pavel Kabat, diretor do Departamento de Pesquisa na OMM, em entrevista coletiva. "Não podemos ter pessoas com boa saúde, pessoas com acesso à comida, à água potável e a um ar saudável sem atacar as mudanças climáticas", advertiu a secretária-geral adjunta da OMM, Elena Manaenkova.
Em uma carta aberta enviada aos Estados nesta quinta, antes da COP24, a alta comissária da ONU dos Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu à comunidade internacional que "tome medidas eficazes, ambiciosas e urgentes" para conter a mudança climática. "Nações inteiras, ecossistemas, povos e modos de vida poderão simplesmente deixar de existir", alertou.
Segundo esta agência da ONU, as concentrações na atmosfera de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), três gases causadores do efeito estufa, voltaram a aumentar no ano passado, estabelecendo "novos recordes" em escala global. "E nada indica uma inversão desta tendência, que é, porém, o fator determinante da mudança climática, da elevação do nível do mar, da acidificação dos oceanos e de um aumento do número e da intensificação dos fenômenos meteorológicos extremos", afirma a OMM.
"Não há varinha mágica"
Os gases causadores do efeito estufa captam uma parte da radiação solar que atravessa a atmosfera, que, deste modo, se aquece. Este fenômeno aumentou 41% desde 1990. E o CO2 é de longe o principal responsável por esse aquecimento. "O CO2 persiste durante séculos na atmosfera e ainda mais tempo no oceano. Não temos uma varinha mágica para fazer desaparecer o conjunto desse excedente de CO2 atmosférico", afirmou Manaenkova.
Sua concentração na atmosfera atingiu 405,5 partes por milhão (ppm) em 2017, uma alta de 2,2 ppm inferior àquela registrada em 2016 (+3,2 ppm), período no qual havia observado um potente episódio do El Niño, que deflagrou eventos de seca nas regiões tropicais e reduziu a capacidade das florestas e da vegetação de absorver o CO2. "A última vez que a Terra conheceu um teor comparável em CO2 foi em 3 a 5 milhões de anos: a temperatura era de 2°C a 3°C mais elevada, e o nível do mar era superior de 10 metros a 20 metros em relação ao nível atual", ressaltou Taalas.
O metano, que aparece em segundo lugar entre os mais importantes e persistentes gases causadores do efeito estufa, também atingiu um novo pico em 2017, representando 257% do nível registrado na época pré-industrial. Os especialistas também observaram, no ano passado, um recrudescimento "inesperado" de um poderoso gás do efeito estufa que prejudica a camada de ozônio, o CFC-11 (triclorofluorometano), cuja produção é regida por um acordo internacional.
As concentrações do gás causador do efeito estufa na atmosfera dependem das quantidades emitidas, mas também de interações complexas que acontecem entre a atmosfera, a biosfera, a litosfera, a criosfera e os oceanos. O oceano absorve cerca de 25% das emissões totais, e a biosfera, outros 25%.