Guiana propõe bases militares com apoio estrangeiro em área reivindicada pela Venezuela

Guiana propõe bases militares com apoio estrangeiro em área reivindicada pela Venezuela

Disputa se intensificou com a descoberta de reservas de petróleo na região e negociações do país com uma gigante energética americana para a exploração


AFP

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Uma gigantesca bandeira da Guiana foi hasteada, nesta sexta-feira, 24, na região do Essequibo, um território disputado pela Venezuela, em uma cerimônia que contou com a presença do presidente Irfaan Ali, em meio a denúncias de provocação por parte de Caracas.

Na noite anterior, Ali esteve com militares no Essequibo, um território de 160.000 km² rico em petróleo e recursos naturais, onde Georgetown planeja estabelecer bases militares com apoio estrangeiro.

Na montanha de Pakarampa, a poucos quilômetros do estado venezuelano de Bolívar, Ali participou do hasteamento da "Ponta da Flecha Dourada", como é conhecida a bandeira do país, ao lado de oficiais e, em seguida, recitou o "Juramento de Lealdade" nacional, conforme mostrado em um vídeo publicado por seu partido.

"Vejo lá, no território que estamos reivindicando, um presidente se uniformizando em campanha militar, o vimos ontem também em uma localidade chamada Kaikan, ali perto da ilha venezuelana e da base militar de Anacoco na fronteira, provocando", reagiu nesta sexta-feira o ministro da Defesa venezuelano, general Vladimir Padrino.

"Com esses estilos e formas de 'valentão de bairro', não vamos resolver essa questão, essa disputa, não é assim", continuou Padrino em um evento oficial. "Não é assim, convocando o Comando Sul [dos Estados Unidos] para estabelecer uma base de operações nesse território, não é assim, não é com essa arrogância."

Duas equipes do Departamento de Defesa americano têm prevista uma visita à Guiana na próxima semana em meio à controvérsia limítrofe, que remonta a mais de um século, mas se intensificou nos últimos meses.

A Guiana apela para uma sentença arbitral de 1899 que estabeleceu as fronteiras atuais, enquanto a Venezuela reivindica o Acordo de Genebra, assinado em 1966 com o Reino Unido antes da independência da Guiana, que anulou a sentença e estabeleceu bases para uma solução negociada.

A disputa se intensificou com a descoberta de reservas de petróleo na região e as negociações da Guiana com a gigante energética americana ExxonMobil para sua exploração.

“Proteger o interesse nacional”

A Venezuela convocou um referendo para 3 de dezembro, no qual perguntará a seus cidadãos se apoiam a concessão de nacionalidade aos 125.000 habitantes da região em disputa e a criação de uma nova província venezuelana chamada "Guayana Esequiba".

"Será um voto de união nacional, cada voto será um voto pela paz da Venezuela", disse o presidente venezuelano Nicolás Maduro em uma ligação telefônica para um evento sobre o Essequibo no estado de Zulia (oeste).

A Guiana rejeitou a consulta, que Ali classificou como "uma ameaça à paz na América Latina e no Caribe".

O vice-presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, anunciou na quinta-feira reuniões com oficiais americanos e, "em seguida, várias visitas em dezembro e uma representação de alto nível".

"Nunca estivemos interessados em bases militares, mas temos que proteger nosso interesse nacional", declarou Jagdeo. "Estamos interessados em manter a paz em nosso país e em nossas fronteiras, mas temos trabalhado com nossos aliados para garantir um plano para todas as eventualidades."

"Todas as opções disponíveis serão aproveitadas", acrescentou.

Os Estados Unidos lideraram exercícios militares em julho na Guiana, com a participação de mais de 1.500 militares de 20 países.

No entanto, o vice-presidente disse que o governo da Guiana espera que a disputa com a vizinha Venezuela possa ser resolvida na Corte Internacional de Justiça (CIJ), cuja jurisdição Caracas não reconhece no caso do Essequibo.

"Digo aos líderes da República Cooperativa da Guiana, isso se resolve como disse o presidente Nicolás Maduro: com diálogo, com diplomacia, conversando, chegando a um acordo satisfatório para ambas as partes, como estabelece o Acordo de Genebra", insistiu Padrino.


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