Iêmen lamenta morte de 29 crianças em bombardeio

Iêmen lamenta morte de 29 crianças em bombardeio

Ataque foi liderado pela Arábia Saudita

AFP

No local ainda podem ser encontrados objetos pessoais das crianças

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A cidade de Dhayan, no Iêmen, continuava muito abalada nesta sexta-feira após a morte de 29 crianças em um bombardeio aéreo contra o ônibus que elas viajavam. Os funerais serão realizados nos próximos dias, segundo um integrantes do Ministério da Saúde Yahya Shahem. "Ainda há restos mortais por toda parte, e tentamos confirmar as identidades dos mortos", acrescentou.

No lugar do bombardeio ainda podem ser encontrados objetos pessoais das crianças de menos de 15 anos. O ataque foi na última quinta-feira contra o ônibus, que estava em um frequentado mercado de Dahyan, zona no Norte do Iêmen controlada pelos rebeldes huthis, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), um hospital que tem o apoio dessa organização cuida de 48 feridos, entre eles 30 crianças.

A coalizão militar liderada pela Arábia Saudita, que intervém desde 2015 contra os rebeldes, reconheceu ter lançado um bombardeio nessa área, mas garantiu que apontava para um ônibus, que carregava "combatentes huthis". Os Estados Unidos e a ONU pedem uma investigação. A porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert, assegurou que os EUA estão "preocupados" com os informes sobre o ataque que causou a morte de civis. "Pedimos à coalizão liderada pela Arábia Saudita que faça uma investigação exaustiva e transparente sobre o incidente", declarou.

Já o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu "uma investigação rápida e independente". A coalizão liderada por Riad intervém no Iêmen para apoiar as forças do presidente Abd Rabo Mansur Hadi. Esse contingente combate os rebeldes huthis que tomaram importantes setores do país, incluindo a capital, Sanaa.

Falta sangue


Um porta-voz do CICR explicou que o balanço de vítimas não é definitivo porque alguns foram transferidos para outros hospitais. "Falta sangue", alertou Jameel Al-Fareh, um dos médicos das emergências do hospital da cidade de Saada, pedindo doadores. A coalizão classificou seu ataque de "operação militar legítima". O ataque apontava para "elementos que [...] dispararam um míssil para a cidade (saudita) de Jizan, causando um morto e feridos entre os civis" na quarta-feira, de acordo com um comunicado.

Há uma semana a coalizão negou ter lançado ataques que deixaram, segundo o CICR, 55 mortos e 170 feridos em Hodeida, no oeste do Iêmen. A cidade portuária de Hodeida é controlada pelos huthis, que atribuíram à coalizão a autoria desses ataques. A coalizão rejeita a acusação e responsabiliza os rebeldes. A coalizão já foi acusada no passado de cometer vários ataques contra civis. Ela admitiu sua responsabilidade em alguns bombardeios, mas acusa regularmente os huthis de se misturarem com os civis, ou de usá-los como escudos humanos.

Membros da minoria zaidi - um braço do xiismo -, os rebeldes huthis têm o apoio do Irã, mas Teerã nega qualquer tipo de ajuda militar. "O mundo precisa realmente ver mais crianças inocentes mortas para deter a cruel guerra do Iêmen?", reagiu o diretor para Oriente Médio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Geery Cappelaere. "Os civis continuam pagando o preço mais alto depois de três anos de guerra no Iêmen", lamentou a organização Médicos Sem Fronteiras.

A guerra no país deixou mais de 10 mil mortos desde que a Arábia Saudita lançou sua intervenção em 2015 e provocou "a pior crise humanitária" do mundo, segundo as Nações Unidas. Até agora todos os esforços para pôr fim ao conflito fracassaram. A ONU organiza novas negociações em 6 de setembro em Genebra.

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