Impacto do coronavírus na economia global faz menos barulho do que o esperado

Impacto do coronavírus na economia global faz menos barulho do que o esperado

Governo da China respondeu ao surto impondo restrições de viagem e requisitos de quarentena, forçando muitos trabalhadores a ficar em casa

AE

Pesquisas de gerentes de compras de empresas divulgadas na sexta-feira mostraram que o crescimento da epidemia se enfraqueceu ainda mais no Japão e atingiu encomendas de exportação na Alemanha

publicidade

A epidemia de coronavírus, que começou na China, está afetando as empresas da Europa e do Japão, embora o impacto inicial tenha sido bem mais modesto do que se temia, de acordo com pesquisas divulgadas nesta sexta-feira. O governo da China respondeu ao surto impondo restrições de viagem e requisitos de quarentena, forçando muitos trabalhadores a ficar em casa, enquanto os embarques de mercadorias para dentro e fora do país asiático foram interrompidos. Um grande número de empresas sediadas fora da China já alertou que essas medidas terão um impacto em suas produções, à medida que dependem de insumos fabricados no país ou não conseguem entregar produtos já finalizados a compradores chineses.

Pesquisas de gerentes de compras de empresas divulgadas na sexta-feira mostraram que o crescimento da epidemia se enfraqueceu ainda mais no Japão e atingiu encomendas de exportação na Alemanha. Mas o impacto na potência industrial europeia foi menos grave do que o esperado. A economia do Japão, terceira maior do mundo, contraiu nos últimos meses de 2019 e o coronavírus parece ter diminuído as esperanças de uma recuperação rápida. De acordo com pesquisa da empresa de dados IHS Markit, que consultou 800 empresas, a atividade no setor privado do país caiu durante as primeiras semanas de fevereiro à menor taxa desde abril de 2014.

A queda no turismo da China ficou parcialmente atrás dessa redução, mas os fabricantes também sofreram com uma diminuição dos pedidos de exportação. Em declarações aos parlamentares, o governador do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, afirmou que é muito cedo para decidir como reagir ao revés. "Ainda não estamos no estágio de discutir a reação específica da política monetária", disse Kuroda a um comitê parlamentar. "Não vamos hesitar em adotar medidas adicionais, se necessário", completou.

Kuroda deve se juntar a outros bancos centrais e chefes do Tesouro das 20 principais economias em uma reunião na Arábia Saudita, no sábado e no domingo. Eles vão discutir o provável impacto do coronavírus na economia global, mas é improvável que vejam necessidade de ações mais urgentes para apoiar a demanda através de cortes nas taxas de juros, já que o curso do surto é altamente incerto.

Se o vírus puder ser contido na China, com um retorno de condições de trabalhos mais normais em um futuro não tão distante, muitos economistas pensam que o impacto global será modesto. Por outro lado, se o vírus sair da China e se espalhar pelo resto da Ásia, o impacto econômico deve ser muito maior. Por enquanto, os efeitos do coronavírus na Europa têm sido pequenos.

A IHS Markit afirma que o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) para a zona do euro - uma medida agregada das atividades nos setores de serviços e industrial - subiu para 51,6 em fevereiro, ante 51,3 em janeiro, atingindo seu nível mais alto em seis meses. No entanto, há sinais de que os níveis de atividade no futuro podem ser mais moderados, com relatos generalizados de que as cadeias de suprimento foram interrompidas.

"A fragilidade das cadeias de suprimento globais significam que até as menores interrupções na China podem levar a grandes repercussões para a Europa no futuro", afirma o economista da Oxford Economics, Oliver Rakau. "Nesse sentido, os PMIs são um sinal bem-vindo de resiliência, mas fornecem uma falsa sensação de segurança", disse.
Algumas empresas reconheceram que as paralisações na China foram perturbadoras. A Apple afirmou na segunda-feira que o surto de coronavírus limitou a produção do Iphone para vendas em todo o mundo, enquanto a Fiat Chrysler disse na semana passada que interrompeu temporariamente a produção na Sérvia porque não conseguia obter peças da China.

Em 2019, a economia global cresceu no ritmo mais fraco desde a crise financeira. Antes do surto na China, a maioria dos economistas esperava ver uma recuperação modesta este ano, à medida que as tensões comerciais diminuíam, mas agora o sentimento já é de dúvida. Os novos ventos vêm à tona quando muitos bancos centrais parecem ter pouca munição para fornecer novos estímulos, tendo sido incapazes de retornar suas taxas de juros básicas para configurações mais estáveis depois de cortá-las em resposta à crise.

O Banco Central Europeu (BCE) já reduziu a taxa de juro básica para abaixo de zero e comprou 2,6 trilhões de euros (US$ 2,8 trilhões) de títulos sob um programa conhecido como alívio quantitativo. Além disso, a instituição apelou aos governos da zona do euro que façam mais para impulsionar o crescimento, mas até o momento não foram observados grandes efeitos. Em contrapartida, os ministros da zona do euro concordaram, na segunda-feira, que buscariam "uma posição mais favorável" se a economia desacelerasse ainda mais.

 

Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895