Instituto Pasteur abandona projeto de vacina contra Covid-19 adaptada de imunizante do sarampo

Instituto Pasteur abandona projeto de vacina contra Covid-19 adaptada de imunizante do sarampo

Respostas imunológicas induzidas foram inferiores do que as observadas em pessoas curadas de uma infecção natural

Correio do Povo e AFP

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O Instituto Pasteur da França anunciou, nesta segunda-feira, o abandono do seu principal projeto de vacina anticovid. A decisão de não continuar com o desenvolvimento do imunizante segue uma revisão dos resultados provisórios obtidos nos ensaios de fase I, iniciados desde agosto passado. "A vacina candidata foi bem tolerada, mas as respostas imunitárias induzidas foram inferiores às observadas em pessoas curadas de uma infecção natural, e aquelas observadas com vacinas licenciadas", explicou o Instituto para justificar sua decisão.

O projeto baseava-se na vacina contra o sarampo adaptada para combater o SARS-CoV-2. Para concebê-lo e distribuí-lo, o prestigioso instituto de pesquisa francês fez parceria com o laboratório MSD (nome usado pelo grupo americano Merck fora dos Estados Unidos e Canadá), que comprou no ano passado a empresa austríaca de biotecnologia Themis, com a qual o Pasteur trabalha há vários anos no desenvolvimento de vacinas, como a da Covid-19.

Os testes da fase 1, o primeiro estágio dos testes em humanos, começaram em agosto passado, em dois centros na França e na Bélgica. O objetivo foi testar a segurança e a imunogenicidade. Um total de 90 voluntários saudáveis ​​participaram deste estudo. Eles receberam duas doses da vacina candidata e/ou um placebo. As duas injeções foram administradas com 28 dias de intervalo, o que é necessário para o sistema imunológico reconhecer e responder à presença do antígeno. A maioria dos voluntários era duplo-cego, ou seja, nem os médicos nem os voluntários sabiam se haviam recebido a vacina candidata ou o placebo.

 "O Instituto Pasteur gostaria de agradecer a todas as pessoas e organizações que contribuíram para a pesquisa realizada no último ano sobre esta vacina candidata e, em particular, a todos os voluntários que participaram e ainda estão participando de ensaios clínicos. Ele também agradece a CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations) que financiou as primeiras etapas de pesquisa e desenvolvimento", lê-se no comunicado divulgado.

Outras vacinas continuam com testes

Esta decisão não põe em risco pesquisas sobre duas outras vacinas candidatas com base em metodologias diferentes. O primeiro, que pode ser administrado por via nasal, está sendo desenvolvido com a empresa de biotecnologia TheraVectys, associada ao Institut Pasteur e especializada no desenvolvimento de vacinas.  Ela é baseada no uso de um vetor lentiviral que é inofensivo para o homem. O objetivo é induzir uma resposta imune específica contra a proteína Spike e desencadear tanto a produção de anticorpos capazes de reconhecer o vírus SARS-CoV-2 quanto de células citotóxicas capazes de destruir células infectadas, evitando assim a desenvolvimento de infecção.

A hipótese é a de que uma vacina eficaz deve induzir proteção vacinal na porta de entrada do vírus, ou seja, no trato respiratório; os anticorpos neutralizantes presentes no sangue acabariam participando apenas marginalmente da proteção.
Com base nos primeiros resultados positivos obtidos com esta vacina candidata contra a SARS-CoV-2 usando um vetor lentiviral, a Theravectys deseja iniciar um primeiro ensaio clínico.

O segundo baseia-se no princípio de injetar um fragmento de DNA em células humanas, que o transcrevem em RNA mensageiro capaz de induzir a produção da proteína Spike do vírus, tornando as células humanas transitoriamente "fábricas". Essas proteínas serão, então, reconhecidas pelo sistema imunológico, que produzirá anticorpos para neutralizá-las, anticorpos que podem, posteriormente, prevenir a infecção. Essa abordagem vacinal tem permitido obter resultados promissores em experimentos em modelos animais, levando à consideração da passagem para o estágio de experimentação clínica em humanos.

 

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