Irã promete vingar a morte do general Soleimani "no momento e lugar apropriados"

Irã promete vingar a morte do general Soleimani "no momento e lugar apropriados"

Embaixada dos EUA recomendou a seus cidadãos que abandonem "imediatamente" o Iraque

AFP

Iranianos lamentam a morte do general Soleimani

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Em um comunicado, o Conselho Supremo de Segurança Nacional iraniana, a mais alta instância desta área no país, elevou o tom após o bombardeio dos Estados Unidos que matou o influente general Qassem Soleimani e um líder pró-Teerã no aeroporto internacional de Bagdá. "A América deve saber que seu ataque criminoso contra o general Soleimani foi o mais grave erro do país. Estes criminosos sofrerão uma dura vingança no lugar e na hora certos", declarou.

O texto segue a linha da declaração do guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que pediu "severa vingança" pela morte de Soleimani. Ele já nomeou um substituto de Soleimani para liderar a Al-Quds, o general de brigada Esmail Qaani. "Não há nenhuma dúvida de que a grande nação do Irã e outras nações livres da região se vingarão por este crime horrível dos criminosos Estados Unidos", prometeu o presidente iraniano, Hassan Rohani.

Além disso, a diplomacia iraniana convocou o embaixador da Suíça, que representa os interesses dos Estados Unidos em Teerã. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, interrompeu sua viagem à Grécia para retornar em caráter de urgência ao país. Na capital iraniana, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra os "crimes" americanos e gritaram frases como "Morte aos Estados Unidos".

EUA

O Pentágono afirmou que o presidente Donald Trump deu a ordem de "matar" Soleimani, depois que uma multidão pró-Irã atacou a embaixada americana em Bagdá na terça-feira. "O general Qassem Soleimani matou, ou feriu gravemente, milhares de americanos durante um longo período e tramava matar muitos mais (...) Era direta e indiretamente responsável pela morte de milhões de pessoas", tuitou Trump. "Deveria ter sido assassinado há muitos anos", completou o presidente americano. "Embora o Irã nunca vá ser capaz de admitir isso claramente, Soleimani era ao mesmo tempo detestado e temido em seu país", afirmou.

A embaixada dos EUA recomendou a seus cidadãos que abandonem "imediatamente" o Iraque. Funcionários americanos do setor petroleiro iraquiano já deixaram o país.

Lançado nas primeiras horas desta sexta-feira contra um comboio de veículos no aeroporto internacional de Bagdá, o bombardeio americano matou nove pessoas. Entre elas, estão o general Soleimani, responsável pelas questões iraquianas na Guarda Revolucionária (Exército ideológico do Irã), e Abu Mehdi al-Muhandis, de cidadania iraquiano-iraniana, número dois das Forças de Mobilização Popular, ou Hashd al-Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Teerã integrada ao Estado iraquiano.

Soleimani, que segundo os Estados Unidos liderava uma organização "terrorista", "estava ativamente tramando na região (...) uma ação importante, como ele a descreveu, que teria posto dezenas, se não centenas, de vidas americanas em perigo", disse o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. Ainda assim, Pompeo afirmou em um tuíte que os EUA seguem "comprometidos com a desescalada". As reações ao bombardeio foram quase imediatas. China, União Europeia, Grã-Bretanha, França, Alemanha e ONU pediram calma e prudência. "O mundo não pode se permitir outra guerra no Golfo", afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em nota divulgada nesta sexta.

Entre dois inimigos

As mortes desta sexta-feira aumentam o temor citado por vários analistas há alguns meses: que o território do Iraque se transforme em um campo de batalha indireto para Irã e Estados Unidos. O presidente iraquiano, Barham Saleh pediu "moderação" a todos, enquanto vários comandantes pró-Irã pediram aos combatentes que "estejam preparados" para responder ao ataque americano.

O primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, teme que o ataque provoque uma "guerra devastadora no Iraque", ao mesmo tempo em que o influente líder xiita iraquiano Moqtada Sadr anunciou a reativação de sua milícia anti-EUA, o Exército de Mehdi, e ordenou que seus combatentes fiquem preparados.

O grande aiatolá Ali Sistani, figura tutelar da política iraquiana, considerou o ataque americano "injustificável", enquanto seu representante na cidade sagrada xiita de Kerbala leu o sermão que denunciou "uma violação flagrante da soberania iraquiana".

Centenas de fiéis gritaram "Não aos Estados Unidos". Há vários anos, o Iraque se encontra no meio do fogo cruzado entre seus dois grandes aliados: EUA e Irã. Em 2003, ao derrubar o regime de Saddam Hussein, Washington passou a controlar as questões iraquianas. Mas Teerã e o movimento pró-Irã se infiltraram no sistema aplicado pelos americanos. Washington respondeu à ação contra sua embaixada, que fica no centro da ultraprotegida Zona Verde de Bagdá, assim como a semanas de ataques com foguetes contra seus diplomatas e soldados.

"Os serviços de Inteligência americanos seguiam Qassem (Soleimani) há muitos anos, mas nunca apertaram o gatilho. Ele sabia, mas não calculou até que ponto suas ameaças de criar outra crise de reféns na embaixada (em Bagdá) mudaria as coisas", explicou à AFP Ramzy Mardini, do Institute of Peace, recordando o trauma provocado nos Estados Unidos pela tomada de reféns na representação diplomática americana em Teerã em 1979. "Trump mudou as regras ao eliminá-lo", disse.

Divisão política nos EUA

As consequências do assassinato seletivo de uma das figuras mais populares do Irã provocaram preocupação nos Estados Unidos e uma nova divisão entre democratas e republicanos, que apoiaram o ataque, a menos de um ano das eleições presidenciais nos Estados Unidos. O Congresso americano não foi informado com antecedência sobre o ataque.

Este bombardeio ameaça provocar "uma perigosa escalada da violência", advertiu a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi. As principais Bolsas do mundo operavam em queda nesta sexta-feira, enquanto as cotações do petróleo registravam alta. O petróleo iraniano está submetido a sanções americanas e a crescente influência de Teerã no Iraque, o segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), gera temor entre os especialistas de um isolamento diplomático e de sanções políticas e econômicas.

Na praça Tahrir de Bagdá, epicentro dos protestos contra o governo e contra seu aliado Irã que abalam o país há mais de três meses, dezenas de iraquianos celebraram a morte do general Soleimani. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, compartilhou um vídeo no Twitter de pessoas "dançando pela liberdade".


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