Irã tem segunda execução pública de condenado à morte por participação em manifestações

Irã tem segunda execução pública de condenado à morte por participação em manifestações

Poder Judiciário iraniano anunciou 11 condenações à morte relacionadas com os protestos

AFP

Em Nova Iorque, ativistas protestaram contra execuções

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O Irã executou publicamente um segundo condenado por participação nos protestos que abalam o país desde setembro, apesar da indignação internacional provocada pela aplicação da pena de morte contra pessoas envolvidas nas manifestações.

Majidreza Rahnavard foi condenado à morte por um tribunal da cidade de Mashhad (nordeste) pela acusação de assassinato de dois membros das forças de segurança. Ele foi enforcado nesta segunda-feira (12) em público e não dentro da prisão, informou a Mizan Online, agência de notícias do Poder Judiciário.

Esta é a segunda execução relacionada com os protestos, após o enforcamento na quinta-feira da semana passada de Mohsen Shekari, um jovem de 23 anos condenado por atacar e ferir um paramilitar.

A Mizan Online divulgou imagens da execução de Rahnavard, registradas provavelmente antes da madrugada, que mostram um homem com as mãos amarradas às costas e pendurado em uma corda presa a um guindaste.

"A execução pública de um jovem manifestante, 23 dias após sua detenção, é outro crime grave cometido pelos governantes da República Islâmica e uma escalada significativa no nível de violência contra os manifestantes", declarou à AFP Mahmood Amiry-Moghaddam, diretor da ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega.

"Majidreza Rahnavard foi condenado à morte com base em uma confissão obtida sob coação, após um processo flagrantemente injusto", acrescentou.

A execução desta segunda-feira foi a primeira em público vinculada aos protestos que começaram após a morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma curda-iraniana de 22 anos que faleceu depois de ser detida pela polícia da moralidade por supostamente violar o rígido código de vestimenta.

Julgamentos fictícios

Desde sua fundação em 1979, a República Islâmica do Irã registrou várias ondas de protestos, mas a atual crise não tem precedentes por sua duração, por acontecer em várias províncias, incluir diferentes grupos étnicos e classes sociais e, em particular, pelos pedidos diretos de fim do regime.

O Poder Judiciário iraniano anunciou 11 condenações à morte relacionadas com os protestos, que o governo chama de "distúrbios", mas os ativistas afirmam que outras 12 pessoas enfrentam acusações que podem resultar na pena capital. "Sem o devido processo. Julgamentos fictícios. É assim que eles querem parar os protestos em todo o país", disse Omid Memarian, analista para o Irã na organização 'Democracy for the Arab World Now' (DAWIN).

Rahnavard foi detido em 19 de novembro quando tentava fugir do país, indicou a Mizan Online. De acordo com informações não verificadas ele tinha 23 anos. De acordo com relatos publicados antes de sua execução, Rahnavard era um jovem entusiasta da vida fitness e lutador amador.

O portal online 1500tasvir afirmou que a família foi informada da execução apenas depois que foi realizada. O portal publicou imagens de um último encontro com a mãe, que saiu sem saber que ele estava prestes a ser enforcado. Várias ONGs alertaram no domingo que vários prisioneiros iranianos no corredor da morte poderiam ser executados em breve, incluindo Mahan Sadrat e Sahand Nourmohammadzadeh.

 

Na semana passada, Estados Unidos, vários países da União Europeia e o Reino Unido condenaram a execução de Shekari. Nesta segunda-feira, os ministros da UE planejam adotar uma nova série de sanções, "muito, muito severas", segundo o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, afirmou hoje que as execuções públicas são uma "tentativa de intimidar as pessoas, não por terem cometido crimes, mas simplesmente por expressarem suas opiniões nas ruas". Ativistas dos direitos humanos e ONGs pedem uma resposta mais contundente, incluindo o rompimento das relações diplomáticas com o Irã e a expulsão de embaixadores das capitais europeias.

Antes do anúncio da segunda execução, o cineasta iraniano vencedor do Oscar, Asghar Farhadi, pediu no Instagram que as autoridades acabem com essas mortes: "Matar e executar jovens indefesos e oprimidos só lhes trará mais raiva e ódio".

 

 


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