Iraniana cega e desfigurada com ácido poupa agressor da lei de retaliação

Iraniana cega e desfigurada com ácido poupa agressor da lei de retaliação

Mulher de 30 anos afirmou que autoridades a pressionaram para renunciar à punição

AFP

Ameneh Bahrami evitou primeira aplicação deste tipo

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Uma jovem iraniana que ficou cega e teve o rosto desfigurado ao ser atacada por um homem que se vingou jogando ácido por ela ter dito não a seu pedido de casamento, perdoou o agressor e solicitou que não fosse aplicada a chamada Lei de Talião, que faria com que o agressor perdesse a visão. Ameneh Bahrami, que atualmente reside na Espanha, evitou assim que fosse executada pela primeira vez no Irã uma pena deste tipo.

Muitas associações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, também tentaram evitar essa punição, informou a imprensa local. "Ameneh Bahrami, vítima de um ataque com ácido, perdoou no último momento seu agressor, Majid Movahedi, e renunciou ao direito de reclamar a Lei de Talião, que devia ser aplicada hoje (domingo)", indicou o site de uma televisão iraniana.

O promotor de Teerã, Jafar Dolatabadi, confirmou à agência Isna que Bahrami desistiu de reclamar a cegueira de seu agressor, mas a jovem exigiu uma indenização baseada no princípio do "dinheiro de sangue". 

Majid Movahedi foi condenado em 2008 a perder a visão com ácido por haver desfigurado e cegado Bahrami em 2004. O rapaz foi sentenciado de acordo com a Lei de Talião, ou lei da retaliação, prevista pela lei islâmica e em vigor no Irã. A pena deveria ter sido aplicada em 14 de maio, mas as autoridades decidiram adiá-la para este domingo, sem dar explicações.

Bahrami, de 30 anos, afirmara que as autoridades iranianas a pressionaram para que ela renunciasse ao direito de reclamar a aplicação da pena. A retaliação foi denunciada pela Anistia Internacional e várias outras associações de defesa dos direitos humanos, que alegaram que a pena era "um castigo cruel e desumano, equivalente a um ato de tortura".

"Lutamos muito para obter este veredicto e me sinto orgulhosa de que Ameneh tenha tido a força necessária para perdoar Majid", declarou a mãe de Bahrami à agência ISNA.

Mulher havia dito que gostaria de aplicar a pena ela mesma

Bahrami, que vive em Barcelona e recebe uma pensão vitalícia por invalidez dada pelo Governo Espanhol, havia afirmado em várias oportunidades que queria que a sentença fosse aplicada. "Eu sofri bastante nos últimos anos, só agora, depois de muito tempo, me sinto realmente feliz", declarou Bahrami em uma entrevista publicada em maio pelo jornal Haft-e Sobh. "Eu gostaria de aplicar a pena eu mesma, mas sei que não posso e que um médico fará", acrescentou a jovem, que viajara em maio para o Irã para assistir à aplicação do castigo.

Ela explicou ainda que queria que a pena da retaliação fosse aplicada "não para que o agressor passasse pelos mesmos sofrimentos que ela, mas sim porque isso poderia dissuadir aqueles que poderiam pensar em cometer crime semelhante". Movahedi jogou ácido no rosto da colega de universidade porque havia rejeitado seus pedidos de casamento.

A vítima ficou completamente desfigurada e perdeu a visão apesar das 17 cirurgias que fez na Espanha. A lei da retaliação é normalmente aplicada no Irã em casos de assassinato. A família da vítima deve pedir expressamente sua aplicação, que ainda depende de uma autorização do juiz. A condenação de Movahedi à cegueira foi determinada pelo Supremo Tribunal em 2009.

A Corte também confirmou em dezembro de 2010 uma pena semelhante a um homem declarado culpado de cegar com ácido o amante de sua mulher. Não se sabe mais a respeito da aplicação desta sentença. 

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