Kansas vota a favor do direito do aborto, em primeiro grande teste após decisão da Suprema Corte

Kansas vota a favor do direito do aborto, em primeiro grande teste após decisão da Suprema Corte

Presidente Joe Biden comemorou a decisão

AFP

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A população do Kansas votou na terça-feira a favor da manutenção do direito ao aborto, na primeira consulta popular sobre o tema desde que a Suprema Corte dos Estados Unidos anulou o direito federal a este procedimento em junho. O estado conservador do meio-oeste dos Estados Unidos rejeitou uma emenda conhecida como "Value Them Both" (Valorize os dois), que teria acabado com o direito constitucional do estado com o objetivo de devolver aos legisladores a regulamentação do procedimento.

A emenda foi apresentada no Congresso estadual, dominado pelos republicanos, por um grupo de legisladores. A votação é vista como um teste para o direito ao aborto em todo país, já que as legislaturas dominadas pelos republicanos se apressam em impor proibições rígidas ao procedimento, após a decisão da Suprema Corte de derrubar a sentença do caso Roe vs Wade, de 1973, que garantiu esse direito. Defensores do direito ao aborto celebraram a vitória. 

Momentos após o fechamento das urnas, às 19h locais (21hde Brasília), Scott Schwab, que supervisiona a votação, declarou que a participação foi de pelo menos 50%. O número foi o esperado para este tipo de votação, segundo a imprensa local.

O presidente Joe Biden comemorou a decisão. "Esta noite, os moradores do Kansas usaram suas vozes para proteger o direito de escolha das mulheres e de acesso ao atendimento médico reprodutivo", escreveu no Twitter. "Esta é uma vitória importante para o Kansas, mas também para todo americano que acredita que as mulheres devem ser capazes de tomar suas próprias decisões de saúde sem a interferência do governo", completou.

Em um comunicado, ele pediu ao Congresso que "escute a vontade do povo americano" e aprove um projeto de lei que estabeleça o direito ao aborto.

Outros estados, como Califórnia e Kentucky, votarão sobre a questão em novembro, juntamente com as eleições de meio de mandato. Tanto republicanos quanto democratas esperam mobilizar seus defensores em todo país sobre o aborto.

Resultado "notável"

Os ativistas consideravam a emenda uma tentativa de abrir o caminho para uma proibição total. Um representante (deputado) estadual já apresentou um projeto de lei com o objetivo de proibir o aborto sem exceções, seja por estupro, incesto ou risco para a vida da mãe.

Para Ashley All, porta-voz da campanha pró-aborto Kansans for Constitutional Freedom (Cidadãos de Kansas pela Liberdade Constitucional), o resultado da eleição foi "notável" . "O Kansas entendeu que esta emenda exigiria que o governo controlasse as decisões médicas privadas", disse. 

Morgan Spoor, 19, votou pela primeira vez e quis promover "o direito de escolha". "Tenho muita vontade de fazer com que minha voz seja ouvida, principalmente como mulher. Acho que ninguém pode dizer o que uma mulher pode fazer com seu corpo."

Sylvia Brantley, 60, disse "sim" à emenda, porque acredita que "os bebês também contam". Ela explicou que deseja mais regulamentações para que o Kansas não seja um lugar "onde se matam bebês".

Olhos voltados para Kansas

Enquanto os defensores do direito ao aborto do Kansas respiraram aliviados em seu próprio estado, eles ainda observam com apreensão os estados vizinhos de Oklahoma e Missouri, que proibiram quase totalmente o direito ao aborto, enquanto em Indiana há muitas restrições.

"O Kansas defendeu hoje os direitos fundamentais", tuitou a governadora do estado, Laura Kelly. "Rejeitamos uma legislação divisiva que colocava em perigo nosso futuro econômico e deixava em risco o acesso ao atendimento de saúde para as mulheres", acrescentou.

O resultado do Kansas implica a manutenção de uma sentença de 2019 da Suprema Corte estadual que garante o acesso ao aborto até a 22ª semana de gestação. O estado está inclinado a apoiar o Partido Republicano, que defende uma regulamentação mais rígida do aborto.

Uma pesquisa de 2021 feita pela Fort Hays State University revelou, no entanto, que menos de 20% dos entrevistados nesse estado concordavam que o aborto deveria ser ilegal mesmo em casos de estupro ou incesto.


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