Manifestações deixam ao menos nove mortos no Iraque
Protestos não têm partido, nem líder religioso, e são motivadas pela deficiência dos serviços públicos e pelo desemprego
publicidade
Nove manifestantes morreram e centenas ficaram feridos nas últimas 24 horas no Iraque, onde milhares de pessoas foram às ruas para pedir serviços públicos e empregos. Submetido a seu primeiro teste popular depois de chegar ao poder há quase um ano, o governo de Adel Abdel Mahdi acusou "agressores" e "sabotadores" de "terem causado vítimas deliberadamente". Os protestos continuaram no início da noite, e o governo anunciou o fechamento da chamada Zona Verde, no centro da capital, onde ficam os ministérios e as embaixadas.
Nesta quarta-feira, segundo constataram jornalistas da AFP, houve disparos nas manifestações organizadas nos bairros de Al-Shaab, ao norte da capital, e Zaafaraniya, no sul. Os protestos se estenderam a outras províncias. Seis manifestantes e um policial morreram na cidade de Naritiya e os demais em Bagdá.
Essas manifestações não têm partido, nem líder religioso, e são motivadas pela deficiência dos serviços públicos e pelo desemprego. Os protestos foram dispersados à força: primeiro, com jatos d'água; depois, com gás lacrimogêneo e balas de borracha. O principal líder xiita, Moqtada Sadr, pediu nesta quarta-feira "protestos pacíficos e uma greve geral" para aumentar a pressão. Sadr foi o principal incentivador das revoltas de 2016, que paralisaram o governo.
Anos de reclamações
Em Zaafaraniya, o jornaleiro Abdullah Walid, de 27 anos, disse à AFP que saiu às ruas nesta quarta "em apoio aos irmãos na Praça Tahrir", fechada pelas forças de segurança. "Queremos empregos, melhores serviços públicos. Exigimos isso há anos e o governo nunca nos respondeu", justificou, contrariado, em uma rua onde veículos blindados estão estacionados.
Mohamed al-Juburi, que também trabalha como jornaleiro, reclama da situação, em meio às colunas de fumaça preta que sobem dos pneus queimados no bairro de Al-Shaab. "Nenhum Estado ataca seu povo como este governo. Somos pacíficos e eles atiram em nós", lamentou.
No dia anterior, na capital, a polícia usou suas armas contra os manifestantes. Dois deles morreram, e mais de 200 ficaram feridos. Uma terceira pessoa, atingida na dispersão do protesto, não resistiu aos ferimentos e faleceu nesta quarta-feira.
O presidente do Iraque, Barham Salih, pediu no Twitter que as manifestações sejam pacíficas e que a polícia "proteja os direitos dos cidadãos". "Nossos jovens querem reformas e querem trabalho. É nosso dever satisfazer esses desejos legítimos", disse o chefe de Estado.
التظاهر السلمي حقٌ دستوري مكفولٌ للمواطنين.أبناؤنا في القوات الامنية مكلفون بحماية حقوق المواطنين، والحفاظ على الأمن العام. أؤكد على ضبط النفس وإحترام القانون. أبناؤنا شباب العراق يتطلعون إلى الإصلاح وفرص العمل، واجبنا تلبية هذه الاستحقاقات المشروعة. الرحمة للشهداء والشفاء للجرحى
— Barham Salih (@BarhamSalih) October 1, 2019
A representante da ONU no Iraque, Jeanine Hennis-Plasschaert, mostrou-se "muito preocupada" com essa tensão nas ruas e pediu às autoridades que "ajam com moderação".
O Iraque, que viveu anos de guerra desde 2003 e teve de enfrentar grupos insurgentes islâmicos, está devastado pela corrupção e pelos combates e sofre anos de escassez crônica de energia elétrica e água potável. Essas manifestações denunciam especialmente a classe política do 12º país mais corrupto do mundo, segundo ranking da ONG Transparência Internacional.