Manifestantes começam a se retirar de Bagdá após apelo à calma do líder xiita Sadr

Manifestantes começam a se retirar de Bagdá após apelo à calma do líder xiita Sadr

Confrontos ocorrem entre os apoiadores de Sadr e as facções xiitas apoiadas pelo Irã

AFP

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Os apoiadores de Moqtada Sadr começaram a se retirar nesta terça-feira (30) da Zona Verde de Bagdá depois que o líder xiita pediu o fim dos confrontos com o exército, que deixaram 23 mortos e centenas de feridos. Os confrontos, que começaram na segunda-feira, ocorrem entre os apoiadores de Sadr e as facções xiitas apoiadas pelo Irã, com troca de tiros em barricadas dos dois lados.

Minutos após os apoiadores de Sadr começarem a abandonar a Zona Verde, a área considerada mais segura de Bagdá, o exército levantou o toque de recolher que havia decretado em todo o país.

O líder deu a seus seguidores "60 minutos" para se retirarem, ameaçando "desautorizar" aqueles que ficassem. "Peço desculpas ao povo iraquiano, o único afetado pelos acontecimentos", disse Sadr a repórteres de sua base na cidade iraquiana de Najaf (centro).

O Iraque continua sob tensão por uma crise política que deixou o país sem governo, sem primeiro-ministro e sem presidente desde as legislativas de outubro de 2021. Na segunda-feira, a tensão aumentou bruscamente quando os partidários de Sadr invadiram o Palácio da República dentro da Zona Verde, após o anúncio de seu líder de que deixaria a política. 

Sadr é um pregador com milhões de seguidores que liderou uma milícia contra os ocupantes após a invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em março de 2003. 

"Escalada perigosa"

Durante a noite, houve disparos contra a Zona Verde, que abriga estabelecimentos do governo e missões diplomáticas. Os protestos começaram quando Sadr anunciou inesperadamente sua "retirada definitiva" da política.

Os confrontos continuaram nesta terça entre os apoiadores de Sadr contra o exército e os homens das Unidades de Mobilização Popular (Hashed al Shabi), ex-paramilitares apoiados pelo Irã, que depois se integraram às forças iraquianas.

A Missão da ONU de Assistência no Iraque (Unami) classificou os fatos como "uma escalada extremamente perigosa" e pediu a todas as partes que "se abstenham de atos que possam levar a uma cadeia implacável de eventos".

Fontes médicas anunciaram nesta terça-feira que 23 apoiadores de Sadr morreram e cerca de 380 ficaram feridos, alguns baleados e outros por inalação de gás lacrimogêneo. Nesta terça-feira aconteceu na cidade sagrada xiita de Najaf um funeral para alguns dos manifestantes mortos em Bagdá, que contou com uma multidão.

Segundo testemunhas, os apoiadores de Sadr e de um grupo xiita rival, o Marco de Coordenação, pró-iraniano, trocaram disparos em Bagdá. O Marco de Coordenação condenou um "ataque às instituições estatais" e pediu aos sadristas que comecem um diálogo.

O primeiro-ministro interino Mustafa al-Kadhemi, por sua vez, disse que "as forças militares, de segurança e os homens armados" estão proibidos de abrir fogo contra os manifestantes.

Situação "preocupante"

Os Estados Unidos também pediram calma em meio aos relatos "preocupantes" sobre a situação, enquanto a França pediu "às partes que exerçam moderação máxima".

Sadr pediu no fim de semana a "todos os partidos", incluindo o seu, que renunciassem aos seus cargos no governo para ajudar a resolver a crise política.

Nas eleições legislativas de outubro de 2021, o bloco de Sadr ficou inicialmente com 73 cadeiras (de 329). Por não conseguir formar uma maioria, ele fez seus deputados renunciarem em junho, alegando querer "reformar" o sistema e acabar com a corrupção.

A renúncia fez o Marco de Coordenação se tornar o principal partido político.

Antes de seu anúncio na segunda-feira, Sadr aumentou a pressão nas últimas semanas e há um mês seus apoiadores acampam em frente ao Parlamento, bloqueando brevemente o acesso ao máximo órgão judicial do país.


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