A justiça federal argentina investigará se o presidente Javier Milei cometeu crime ao promover, em suas redes sociais, uma criptomoeda que colapsou horas após seu lançamento na última sexta-feira, após receber uma onda de denúncias contra o mandatário. O juizado federal 1, sob a responsabilidade da magistrada María Servini, foi designado nesta segunda-feira (17) por sorteio para centralizar as denúncias que pedem para apurar se Milei cometeu associação criminosa, fraude e violação dos deveres de funcionário público, entre outros crimes.
'Denunciamos que Milei fez parte de uma associação criminosa que organizou uma fraude com a criptomoeda $LIBRA, que afetou simultaneamente mais de 40 mil pessoas, com perdas superiores a 4 bilhões de dólares (cerca de R$ 23 bilhões)', afirmou em um comunicado o Observatório de Direito da Cidade, cujos advogados lideram uma das ações. Deputados da oposição União por la Patria (peronismo) anunciaram que promoverão o impeachment de Milei no Congresso; outras forças políticas pedem a instauração de uma comissão investigadora e a convocação do presidente para interrogá-lo.
No contexto do escândalo, as principais ações caíram quase 4% na abertura da Bolsa de Buenos Aires. É feriado nos Estados Unidos nesta segunda-feira e os mercados de Nova York estão fechados.A denúncia inclui, entre outros, Julián Peh, CEO e cofundador da Kip Network e KIP Protocol - empresas que participaram da criação da $LIBRA - e o presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, que repostou a mensagem de Milei na rede social X na sexta-feira.'Imediatamente após a mensagem de apoio presidencial, o preço do criptoativo registrou uma alta exponencial em sua cotação e, depois, em 5 horas, colapsou', relata a apresentação judicial.
De acordo com a petição, o fato de 'o presidente Milei e outros líderes de seu partido, La Libertad Avanza, promoverem o Token, deu legitimidade ao projeto, fazendo com que milhares de investidores confiassem'.Dessa forma, o preço subiu, 'e os grupos que controlavam a maior quantidade do token liquidaram suas posições, obtendo um lucro exorbitante'.Os denunciantes consideram que 'a promoção do $LIBRA feita pelo presidente Milei não foi acidental nem ingênua' e ressaltaram que se passaram '3 minutos' desde o lançamento do token até o tuíte presidencial.Milei, economista de profissão, 'é um amplo conhecedor das criptomoedas e de seu funcionamento', apontaram.
A ação solicitou à justiça o cumprimento de um mandado de busca e apreensão na residência presidencial de Olivos e o confisco de computadores, tablets e celulares. Os autores também pedem a 'intervenção e perícia na plataforma X para custodiar o conteúdo da conta do presidente Javier Milei @JMilei e dos outros denunciados, incluindo os registros de seus tuítes apagados', bem como a rastreabilidade das transações 'para identificar os beneficiários da fraude'.Além desta denúncia apresentada ao Ministério Público, outras centenas estão sendo promovidas por canais digitais, informaram fontes judiciais citadas pela imprensa local.