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Netanyahu cobra retorno de reféns mortos e Israel ameaça retomar ofensiva em Gaza

Acordo de trégua estabelecia o retorno dos sequestrados vivos e mortos em até 72 horas após o início do cessar-fogo

Hamas cumpriu o prazo ao libertar os 20 reféns sobreviventes, mas falhou em entregar os restos mortais de todos os 28 falecidos
Hamas cumpriu o prazo ao libertar os 20 reféns sobreviventes, mas falhou em entregar os restos mortais de todos os 28 falecidos Foto : Jalaa Marey / AFP

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou nesta quinta-feira (16) estar "determinado" a garantir o retorno de todos os reféns que morreram em cativeiro sob o poder do Hamas. A declaração ocorre após o seu ministro da Defesa, Israel Katz, ameaçar publicamente retomar a ofensiva em Gaza, acusando o movimento islamista de violar o acordo de cessar-fogo.

O acordo de trégua, mediado por Washington e resultado de mais de dois anos de guerra desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, estabelecia o retorno dos sequestrados vivos e mortos em até 72 horas após o início do cessar-fogo. O Hamas cumpriu o prazo, libertando os 20 reféns sobreviventes, mas falhou em entregar os restos mortais de todos os 28 falecidos que se comprometeu a devolver, tendo entregue apenas nove.

Famílias pedem suspensão do acordo

Em uma cerimônia oficial no cemitério militar do Monte Herzl, em Jerusalém, Netanyahu afirmou que "A luta ainda não terminou, mas uma coisa está clara: qualquer um que nos ataque sabe que pagará um preço muito elevado".

O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos apelou ao governo israelense para que "interrompa imediatamente a implementação de qualquer etapa adicional do acordo" enquanto o Hamas não cumprir integralmente suas obrigações.

Em resposta, o braço armado do Hamas, as Brigadas Ezedin al-Qassam, alegou na quarta-feira ter entregado todos os corpos de reféns que mantinha "sob sua custódia, assim como os cadáveres aos quais teve acesso".

Como parte do acordo, Israel entregou 120 cadáveres de palestinos para identificação em Gaza, com a premissa de que o país deveria entregar os corpos de 15 palestinos para cada refém falecido devolvido pelo Hamas. O presidente dos EUA, Donald Trump, principal promotor do acordo, sugeriu na quarta-feira que o Hamas está escavando para encontrar os cadáveres.

Crise humanitária e situação em Gaza

A primeira fase do acordo, além do retorno dos reféns, prevê a retirada das tropas israelenses de vários pontos de Gaza e a entrada de mais ajuda humanitária. Uma segunda fase, proposta por Trump, abordaria temas mais complexos, como o desarmamento e a expulsão do Hamas.

O diretor das operações humanitárias da ONU, Tom Fletcher, pediu que Israel cumpra sua parte e permita a entrada de ajuda humanitária em larga escala. A ofensiva de Israel em Gaza deixou mais de 67.900 mortos, a maioria civis, e provocou uma situação de fome declarada pela Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC). Israel controla todas as passagens, incluindo a de Rafah, e afirmou que só permitirá a reabertura desta passagem em uma fase posterior.

No território palestino, a situação é caótica. Moradores atacam os caminhões de ajuda para roubar mantimentos, o que impede a distribuição ordenada. Um deslocado que retornou à Cidade de Gaza, Mustafa Mahram, descreveu a devastação: "Não há água - não há água limpa, nem mesmo água salgada. Não temos as coisas mais básicas para a vida, nem comida, nem bebida, nada. E, como você pode ver, a única coisa que resta são escombros. Uma cidade inteira foi destruída", concluiu.

Em meio ao drama, a argentina Silvia Cunio comemorou o retorno de seus dois filhos sequestrados: "Meus filhos estão em casa! Durante dois anos, não respirei. Durante dois anos, senti que não tinha ar".