O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou, nesta segunda-feira (17), que "deve respeitar" a proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a Faixa de Gaza após a guerra, a qual prevê o deslocamento de 2,4 milhões de habitantes do território palestino.
A Arábia Saudita, contrária a essa ideia, receberá na próxima sexta-feira uma cúpula de vários países árabes, que estava inicialmente prevista para quinta-feira, para tentar apresentar uma resposta comum à iniciativa, que gerou indignação internacional.
Em visita a Israel no domingo, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, demonstrou alinhamento com Netanyahu. Rubio também se reúne com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, nesta segunda, em Riade.
O líder israelense afirmou que deve "respeitar" a ideia do presidente dos Estados Unidos, que propôs assumir o controle de Gaza, deslocar seus habitantes para Egito e Jordânia, e transformá-la em um destino turístico de luxo, como a Costa Azul francesa.
Uma ideia que tanto os países envolvidos quanto os próprios palestinos rejeitaram firmemente.
"Assim como me comprometi que no dia seguinte à guerra em Gaza não haja mais nem o Hamas nem a Autoridade Palestina, devo respeitar o plano do presidente dos Estados Unidos Trump para a criação de uma Gaza diferente", afirmou Netanyahu nesta segunda-feira.
"500 dias de humilhações"
Quatro semanas após o início da trégua em Gaza, a qual tem uma duração inicial de 42 dias, o gabinete do primeiro-ministro anunciou uma reunião do gabinete de segurança nesta segunda-feira para abordar a segunda fase do acordo de cessar-fogo com o Hamas.
Também foi anunciado o envio de uma equipe de negociadores ao Cairo "para discutir a continuidade da implementação da primeira fase do acordo", que entrou em vigor em 19 de janeiro.
"Têm sido 500 dias de humilhações, sofrimento e derramamento de sangue", lamentou um morador do norte de Gaza que pôde retornar para casa devido à trégua.
Em Jerusalém, dezenas de familiares de reféns mantidos em cativeiro em Gaza há 500 dias marcharam até o Parlamento, carregando fotos de seus entes queridos e exigindo que sejam libertados.
"Meus olhos ardem pelas lágrimas que derramo há 500 dias", afirmou Einav Tzangauker, cujo filho foi sequestrado no kibutz de Nir Oz. A mulher exigiu dos deputados que "façam tudo o que for possível para trazer" de volta e "vivos" seu filho e os outros reféns.
A primeira fase da trégua, negociada com a mediação do Catar, Egito e Estados Unidos, permitiu até agora a liberação de 19 reféns israelenses e 1.134 palestinos.
O acordo prevê que 33 reféns sejam libertados durante a etapa, em troca de 1.900 prisioneiros palestinos.
A segunda fase deve permitir o retorno de todos os reféns e o fim definitivo da guerra, mas sua implementação é incerta porque as negociações ainda não começaram.
A terceira e última etapa será dedicada à reconstrução da Faixa de Gaza, para a qual a ONU calcula que serão necessários mais de 53 bilhões de dólares (302 bilhões de reais).
O conflito começou em 7 de outubro de 2023, após o ataque do Hamas no sul de Israel que deixou 1.211 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Os islamistas também sequestraram 251 pessoas durante o ataque, das quais 70 permanecem em Gaza, mas 35 delas mortas, segundo o Exército israelense.
Em resposta, Israel iniciou uma ofensiva implacável em Gaza, que deixou pelo menos 48.271 mortos, segundo os dados do Ministério da Saúde do território - governado pelo Hamas -, que a ONU considera confiáveis.
Trégua frágil
A trégua sofreu um abalo na semana passada, depois que o Hamas ameaçou suspender a libertação dos reféns e Israel ameaçou retomar a guerra, com uma troca de acusações sobre violações do acordo.
Após os esforços do Catar e do Egito, no sábado o Hamas libertou três reféns israelenses e Israel libertou 369 prisioneiros palestinos, na sexta troca desde 19 de janeiro.
O acordo permanece, no entanto, frágil. O movimento islamista palestino, classificado como organização "terrorista" por Estados Unidos, Israel e União Europeia, acusou no domingo os israelenses de "grave violação" após um ataque que matou três policiais em Gaza.
A guerra em Gaza se espalhou por outras regiões do Oriente Médio e levou a um aumento da violência no Iêmen e no Líbano, países nos quais o Irã apoia milícias locais.
Israel travou uma guerra contra o Hezbollah, aliado do Hamas no Líbano, e debilitou gravemente o grupo islamista até o início de um cessar-fogo em 27 de novembro.
As tropas israelenses deveriam ter se retirado do Líbano dentro de 60 dias, mas o prazo foi prorrogado até 18 de fevereiro.
O Exército israelense anunciou nesta segunda-feira que se manterá em cinco "posições estratégicas" no Líbano após o prazo que se encerra na terça expirar.