Nova presidente do Peru tenta formar governo após destituição de Castillo

Nova presidente do Peru tenta formar governo após destituição de Castillo

Advogada de 60 anos terá de montar seu primeiro gabinete ministerial

AFP

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A incerteza domina o Peru nesta quinta-feira (8), no primeiro dia da presidência de Dina Boluarte, que pediu uma trégua à oposição para tentar superar a crise institucional após a fulminante destituição e detenção de Pedro Castillo por uma tentativa frustrada de golpe de Estado.

A advogada de 60 anos, vice-presidente até quarta-feira, terá que formar nas próximas horas seu primeiro gabinete ministerial, o que permitirá sentir o pulso da orientação de seu governo e vislumbrar suas possibilidades de sobreviver à tempestade política no Parlamento.

Após uma sucessão de anúncios que abalaram as instituições do Peru em poucas horas, Boluarte tomou posse como a primeira mulher presidenta do país e deixou claro que aspira cumprir o restante do mandato, até julho de 2026.

Suas decisões iniciais serão cruciais para saber se conseguirá concretizar o objetivo ou se ela será obrigada a recuar e convocar eleições gerais antecipadas.

No primeiro discurso como chefe de Estado, Dina Boluarte pediu a "unidade nacional" e fez um apelo para que os partidos deixem de lado as ideologias, uma referência tácita ao confronto que marcou a relação entre o governo do esquerdista Castillo e o Congresso, dominado pela direita.

Depois fez um aceno à Organização dos Estados Americanos (OEA): "Faço um pedido muito concreto à representação nacional, solicito uma trégua política para instalar um governo de unidade nacional".

Em 1º de dezembro, uma missão da OEA que monitora a crise política peruana solicitou uma trégua de 100 dias entre o Executivo e o Legislativo, o que não aconteceu.

Crise em tempo real 

O Peru viveu na quarta-feira horas de suspense que terminaram com Castillo detido à noite em uma base da polícia no leste de Lima, acusado em flagrante pelo crime de rebelião.

Horas antes de o Congresso debater sua terceira tentativa de remover Castillo do poder em 16 meses, ele anunciou que era alvo de "um ataque sem quartel" por parte do Parlamento, anunciou a dissolução do Congresso e um toque de recolher. O agora ex-presidente pretendia governar por decreto.

As Forças Armadas e a polícia, no entanto, não o apoiaram. O Congresso ignorou seu anúncio e seguiu com o processo de destituição.

Desde que assumiu a presidência em julho de 2021, Castillo viveu sob a pressão do Congresso e do Ministério Público, que o acusa de comandar uma suposta "organização criminosa" que distribui contratos públicos em troca de dinheiro

A destituição do esquerdista, que tinha um índice de rejeição de 70% nas pesquisas mais recentes, foi aprovada por 101 votos de um total de 130 congressistas.

Após a destituição, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, chamou Castillo de "ex-presidente" e considerou que os congressistas peruanos tomaram "medidas corretivas" de acordo com as regras democráticas. Países de toda a região defenderam o respeito ao Estado de Direito e à democracia no Peru.

Uma presidência frágil

Sem bancada própria no Congresso, Boluarte enfrenta uma situação de fragilidade muito similar à vivida entre 2018 e 2020 pelo então presidente Martín Vizcarra, que acabou perdendo o cargo. "Não tem bancada no Congresso, está sozinha", advertiu o ex-presidente Ollanta Humala na quarta-feira em entrevista ao Canal N.

"Ela não tem as ferramentas para governar, deve convocar eleições antecipadas, pode ser renunciando para que o presidente do Congresso assuma e antecipe as eleições", acrescentou Humala, que governou o país de 2011 a 2016.

O ex-presidente expressou ceticismo sobre o futuro do governo de Boluarte. "O que acontece hoje é uma trégua que vai durar um mês ou talvez mais, mas depois aparecerão os grandes problemas do país", disse.

"Esperamos que a presidente nomeie um gabinete com uma base ampla, um gabinete muito bom. Todos devemos fazer o possível para que as coisas funcionem bem", tuitou a líder de direita Keiko Fujimori.

A filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) afirmou que seu partido, Força Popular, a principal minoria do Congresso, apoiará a nova presidente. Dina Boluarte pode ter a seu favor o enorme descrédito do Congresso, marcado por escândalos de corrupção. O Parlamento tem índice de rejeição de 86% nas pesquisas recentes.

 

 

 

 

 


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