Novichok, veneno usado contra ex-espião russo, não está em lista de Proibição de Armas Químicas

Novichok, veneno usado contra ex-espião russo, não está em lista de Proibição de Armas Químicas

Rússia nega existência e reservas do agente químico não declarado

AFP

Agente químico causou envenenamento em ex-espião russo, refugiado na Inglaterra, e sua filha

publicidade

Reino Unido, França, Alemanha e Estados Unidos publicaram na quinta-feira um comunicado conjunto no qual condenaram o ataque com um agente tóxico contra o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha no início de março na Inglaterra. As quatro potências ocidentais exigem que Rússia faça uma divulgação "completa" do programa Novichok à Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) em Haia.

Cinco perguntas sobre a OPAQ e o programa russo Novichok:

O que a OPAQ pode fazer?

O mais importante é que o Reino Unido apresente provas sobre o uso de uma arma química, dando mostras para que sejam analisadas, afirma Alastair Hay, professor aposentado de Toxicologia Ambiental na Universidade de Leeds. O ministro britânico das Relações Exteriores, Boris Johnson, afirmou à BBC que o país enviou uma mostra do agente tóxico à OPAQ para análise. Londres poderia inclusive solicitar ao organismo de controle uma investigação sobre a Rússia, já que OPAQ tem a autoridade para isto em virtude da Convenção sobre Armas Químicas.

Por que o Novichok não foi proibido?


Com sede em Haia, a OPAQ só pode investigar as armas químicas declaradas pelos 192 Estados membros da organização. A OPAQ informou em outubro a destruição total das reservas russas de armas químicas. A Rússia nunca declarou o agente tóxico Novichok e negou inclusive sua existência, afirma o especialista em armas químicas Mark Bishop, do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais de Monterey.

De acordo com uma informação revelada, entre outros, pelo cientista e dissidente soviético Vil Mirzanayov - que se tornou famoso nos anos 1990 por divulgar os experimentos secretos russos com o Novichok - a Rússia conserva "dezenas de toneladas" do agente tóxico em suas reservas de armas químicas não declaradas.

Qual é o impacto real da OPAQ?

"A OPAQ tem sido muito eficaz para criar um mundo sem armas químicas", afirma Sico van der Meer, pesquisador do Institute Clingendael de Haia. Mais de 95% das reservas mundiais de armas químicas declaradas foram destruídas e a OPAQ recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2013 por seu trabalho. Os inspetores da organização são muito competentes, mas o sistema não totalmente seguro, de acordo com os especialistas. "Se alguém deseja provocar danos, sempre existe uma forma de fazer", indica Van der Meer.

O que diz a Convenção sobre Armas Químicas?

O país que adere à Convenção sobre Armas Químicas tem a responsabilidade de declarar suas armas químicas e comunicar suas características, quantidades e a localização das instalações de produção e armazenamento. A OPAQ tem o direito de inspecionar as instalações, mas não pode entrar em outros locais. A convenção implica, portanto, um certo nível de confiança nos países signatários.

A Rússia burlou a convenção?

A Convenção sobre Armas Químicas exige aos países membros que declarem todas as suas armas, mas a Rússia negou a existência do Novichok. O embaixador britânico na OPAQ, Peter Wilson, acusou na quinta-feira a Rússia de não declarar plenamente "durante muitos anos" suas reservas de armas químicas.

O especialista em armas químicas Mark Bishop destaca que, pelo que ele entende da convenção, um país só deve declarar os produtos químicos destinados a produzir armas e não os demais. "Muitos produtos químicos tóxicos produzidos pelos cientistas poderiam ser utilizados como armas, mas na realidade foram fabricados com outros propósitos", afirma. "Os russos podem dizer que estavam pesquisando químicos parecidos ao Novichok para utilizá-los como pesticidas, por exemplo", diz Bishop.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895