Obama comuta pena de Chelsea Manning, WikiLeaks canta vitória

Obama comuta pena de Chelsea Manning, WikiLeaks canta vitória

Constituição americana permite que o presidente comute a pena de um condenado

AFP

Pena foi comutada para sete anos e ela poderá ser libertada no dia 17 de maio

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A três dias de sua saída da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, comutou a pena da militar que vazou informações para o site WikiLeaks, Chelsea Manning, que será libertada no próximo dia 17 de maio. Manning havia sido condenada, em agosto de 2013, a 35 anos de prisão por vazar mais de 700 mil documentos confidenciais do governo americano para o site WikiLeaks.

A militar transexual, que antes se chamava Bradley Manning, teve a pena comutada para sete anos e poderá ser libertada no dia 17 de maio. Segundo a Constituição americana, o presidente pode indultar ou comutar a pena de um condenado.

Elogiado por seus partidários por ter revelado os abusos dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão, o ainda Bradley Manning foi condenado por uma Corte Marcial por ter colocado seus companheiros e seu país em risco. Manning, de 28 anos, tentou cometer suicído em duas ocasiões, em julho e agosto passados.

WikiLeaks comemorou a decisão no Twitter

"VITÓRIA: Obama comuta pena de Chelsea Manning de 35 anos para 7. A data da libertação é 17 de maio". O fundador do Wikileaks, Julian Assange, agradeceu no Twitter todos os que contribuíram para a comutação da pena.

"Obrigado a todos que participaram desta campanha por clemência. Vossa coragem e determinação tornaram isto possível. Em cinco meses estará livre. Obrigado por tudo que fizeram pelo mundo". Na semana passada, Wikileaks afirmou que Assange aceitaria ser extraditado para os Estados Unidos caso Barack Obama mostrasse clemência com Chelsea Manning.

"Se Obama conceder o indulto a Manning, Assange aceitará uma extradição para os Estados Unidos, apesar de ser um caso claramente inconstitucional por parte do DoJ (Departamento de Justiça dos Estados Unidos)", tuitou o WikiLeaks.

'Um herói'

Assange, 45 anos, vive na embaixada do Equador em Londres desde junho de 2012 para evitar a extradição para a Suécia, onde é acusado de agressão sexual. O australiano teme que Estocolmo o extradite para os Estados Unidos por conta da divulgação de milhares de documentos militares e diplomáticos de Washington que foram vazados por Manning.

Seus advogados voltaram a pedir na terça-feira que o departamento de Justiça americano não o indicie pela divulgação dos documentos confidenciais enviados ao WikiLeaks. "Em cinco meses você estará livre. Obrigado por tudo o que você fez por todo mundo, Chelsea", reagiu Edward Snowden no Twitter.

O governo americano sempre insistiu na diferença de gravidade entre os casos de Manning e do ex-consultor da agência de inteligência americana NSA refugiado na Rússia, que vazou milhares de documentos secretos revelando o sistema de vigilância de dados das autoridades americanas a nível mundial.

"Chelsea Manning foi alguém que foi julgado pela justiça militar, reconheceu sua culpa, foi condenado e reconheceu seus erros", explicou Josh Earnest, porta-voz da Casa Branca. "Snowden fugiu para os braços de um adversário e encontrou refúgio em um país que, muito recentemente, tentou deliberadamente enfraquecer nossa democracia", acrescentou. "As divulgações de Edward Snowden foram muito mais graves e muito mais perigosas", ressaltou.

Traidor tratado como 'mártir'

Se o presidente eleito Donald Trump ainda não reagiu à decisão, muitos republicanos expressaram insatisfação.
Furioso, o senador Tom Cotton do Arkansas lamentou que um "traidor" seja tratado como um "mártir". Ele afirmou não entender "por que o presidente teria uma compaixão especial para alguém que colocou em perigo as vidas de nossos soldados, nossos diplomatas, nossos agentes da inteligência e nossos aliados".

O senador John McCain denunciou "um erro grave" que poderia "encorajar outros atos de espionagem e minar a disciplina militar". "Isso é ultrajante", declarou Paul Ryan, presidente republicano da Câmara dos Representantes.

A organização Anistia Internacional acolheu uma decisão positiva, mas tardia, considerando "extravagante" que Chelsea Manning tenha passado tantos anos na prisão.

O cineasta Michael Moore respondeu com entusiasmo: "OBRIGADO presidente Obama por comutar a sentença de Chelsea Manning !!! Ela será libertada em maio em vez de 2045!! OBRIGADO".

No total, Obama perdoou 64 pessoas e comutou a pena de outras 209, incluindo Manning, em um de seus últimos atos como presidente. Entre os beneficiados está o general James Cartwright, que prestou falso testemunho ao FBI em uma investigação sobre vazamento de informação envolvendo o ataque informático que os Estados Unidos lançaram contra o Irã em 2010.

Obama também comutou a pena do separatista porto-riquenho Óscar López Rivera, preso há mais de três décadas por acusações relacionadas a terrorismo. López Rivera cumpria uma pena de 55 anos de prisão desde 1981, aos quais se somaram outros 15 anos em 1988, por conspiração, transporte de armas e munições, ligados a seu envolvimento com o grupo nacionalista Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN). López Rivera também será libertado no dia 17 de maio deste ano, como Manning.

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