ONU pede à França que investigue "uso excessivo de força" contra "coletes amarelos"

ONU pede à França que investigue "uso excessivo de força" contra "coletes amarelos"

Desde o início do movimento, a Inspecção-Geral da Polícia Nacional recebeu mais de cem denúncias

Correio do Povo

Desde o início do movimento, a Inspecção-Geral da Polícia Nacional (IGPN) recebeu uma centena de casos de acusações de violência policial

publicidade

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu à França nesta quarta-feira uma "investigação completa" sobre a violência policial durante as manifestações dos "coletes amarelos", que se estendem desde novembro. Em discurso no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, na Suíça, a ex-presidente chilena pediu: "Encorajamos o governo continuar o diálogo e a solicitar urgentemente uma investigação completa de todos os casos relatados de uso excessivo da força".

Bachelet afirmou que os "coletes amarelos" estão protestando contra "o que eles consideram ser (sua) exclusão dos direitos econômicos e participação nos assuntos públicos" e lembrou que "as desigualdades afetam todos os países" e que "mesmo em estados prósperos, as pessoas se sentem excluídas dos benefícios do desenvolvimento e privadas de direitos econômicos e sociais". Ela citou a França como um desses lugares, mas também denunciou a violenta repressão de recentes protestos no Sudão, Zimbábue e Haiti.

"Os manifestantes exigem um diálogo respeitoso e reformas reais, mas em muitos casos são recebidos com violência e uso excessivo de força, detenções arbitrárias, tortura e até mesmo relatos de execuções extrajudiciais", lamentou. Desde o início do movimento, a Inspecção-Geral da Polícia Nacional (IGPN) recebeu uma centena de casos de acusações de violência policial. Várias pessoas afirmam ter sido feridas por tiros de lançador de balas defensivas (LBD), uma arma que levanta sérias controvérsia no país.

No final de fevereiro, o Conselho da Europa pediu à França para "suspender o uso" do LBD, acusado de causar ferimentos graves aos manifestantes. É considerado uma  arma sub-letal  que limita o risco de penetração em um corpo, mas com poder de parada suficiente para deter ou prender um indivíduo. O sistema pode ter efeitos traumáticos de curto prazo, cuja gravidade pode levar a lesões graves que podem ser irreversíveis ou mesmo fatais.

Nas redes sociais, diversos vídeos denunciam casos. Recentemente, no dia 2 de março, em Toulouse, um manifestante em uma cadeira de rodas se aproxima de um policial, que se vira e espirra gás lacrimogêneo no rosto do homem. Na mesma ocasião, Um casal de idosos foi espancado e abatido na rua: a mulher é agredida com um cassetete enquanto o homem que a acompanha tenta protegê-la, mas também é espancado e jogado no chão. Em um comunicado de imprensa, a prefeitura de Haute-Garonne disse que o casal "proferiu insultos contra policiais" e que a mulher "tentou roubar uma granada".

"Eu não conheço nenhum policial, nenhum oficial, que tenha atacado coletes amarelos", disse o ministro do Interior, Christophe Castaner, em 14 de janeiro, durante uma viagem à prefeitura de Aude, Carcassonne. Depois de negar que qualquer caso de abuso policial tenha ocorrido desde o início do movimento, ele continuou: "Conheço policiais e gendarmes que usam meios para defender a República, a ordem pública. Mas é claro que nunca vi um policial ou gendarme atacar um manifestante ou um jornalista. Por outro lado, tenho visto manifestantes atacando sistematicamente nossas forças de segurança e também atacando jornalistas".


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895