O diretor de operações humanitárias da ONU, Tom Fletcher, alertou neste sábado (18) para a "tarefa monumental" de restabelecer os serviços básicos na devastada Faixa de Gaza, em meio à lenta troca de restos mortais entre Israel e Hamas. Durante uma visita à Cidade de Gaza, Fletcher destacou a magnitude da destruição.
"Estive aqui há sete ou oito meses. A maioria dos edifícios ainda estava de pé. Mas agora é absolutamente espantoso observar como uma grande parte da cidade se transformou em um terreno baldio", declarou à AFP no bairro de Sheikh Raduan.
O diretor do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) detalhou o plano imediato para a região. "Agora temos um grande plano de 60 dias para intensificar o fornecimento de alimentos, distribuir um milhão de refeições por dia, começar a reconstruir o setor de saúde, instalar tendas para o inverno e reenviar centenas de milhares de crianças às escolas".
Atrasos na troca de corpos
O acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos previa que o Hamas libertasse 20 reféns vivos e entregasse os corpos de 28 sequestrados falecidos. Embora o Hamas tenha libertado os reféns vivos, entregou apenas os restos mortais de 10 reféns, alegando dificuldades na busca e extração dos corpos das ruínas.
As autoridades israelenses anunciaram neste sábado a identificação dos restos mortais de Eliyahu Margalit, um septuagenário assassinado no ataque de 7 de outubro de 2023. O Ministério da Saúde de Gaza, por sua vez, informou que Israel devolveu 15 cadáveres de palestinos, elevando o total repatriado no âmbito do acordo para 135.
O Hamas, que governa Gaza desde 2007, reiterou que devolverá todos os corpos dos reféns, mas reconheceu que o processo "poderia levar algum tempo". O porta-voz Hazem Qasem afirmou que alguns corpos estão "enterrados em túneis" destruídos pelo Exército israelense e "outros continuam sob os escombros de edifícios bombardeados". Israel considera os atrasos uma violação e o gabinete de Benjamin Netanyahu garantiu que "não cederá, nem poupará" esforços até o retorno de todos os falecidos.
Acusações de violações
As trocas de acusações de violação do cessar-fogo continuam. O Hamas denuncia as mortes de 37 pessoas atingidas por tiros das forças israelenses desde 10 de outubro. A Defesa Civil de Gaza afirmou ter recuperado neste sábado os corpos de nove palestinos que teriam morrido em um ataque israelense a um ônibus na véspera. O Exército israelense, por sua vez, disse ter "identificado" e aberto fogo contra um veículo "suspeito cruzando a linha amarela" de retirada.
A crise humanitária é catastrófica. A Defesa Civil de Gaza calcula que mais de 280 corpos foram encontrados sob os escombros desde a entrada em vigor da trégua, e estima que haja quase 10.000 corpos ainda soterrados.
O acordo também prevê o acesso de ajuda humanitária pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, mas os acessos, controlados por Israel, continuam muito limitados. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU advertiu que reverter a situação de fome na Faixa de Gaza "levará tempo".
A ofensiva israelense, que é uma resposta ao ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023, já provocou mais de 67.900 mortes no território palestino, a maioria de civis. O ataque inicial do Hamas deixou 1.221 mortos em Israel.