Países da OTAN divergem sobre retirada de tropas do Iraque

Países da OTAN divergem sobre retirada de tropas do Iraque

Entre as principais potências, França e EUA se negaram a sair do país, enquanto Alemanha realocou soldados e Reino Unido sinalizou que respeitará desejo iraquiano

Eric Raupp

Muitos soldados foram realocados para o Kuwait

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Um dia após o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark T. Esper, afirmar que o país não retiraria suas tropas do Iraque apesar do Parlamento local pedir ao governo para "acabar com a presença de tropas estrangeiras" no território, aliados de Washington divergem sobre como proceder. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) suspendeu a missão de treinamentos ao Exército iraquiano e começou uma retirada parcial e realocamento de soldados encabeçada pela Alemanha. Algumas nações, como França e Repúblicar Tcheca, se negaram a qualquer mudança.

O governo alemão reposicionou 30 de seus 120 seus soldados para a Jordânia e o Kuwait durante a madrugada, numa ação que a ministra da defesa Annegret Kramp-Karrenbauer descreveu como "medida" de segurança. Eles estavam em Bagdá e Taji, uma cidade a poucos quilômetros ao norte da capital iraquiana. Os outros 90 estão na região curda do norte do Iraque. Berlim garantiu que as tropas retornarão se as missões de treinamento forem retomadas. Heiko Mass, ministro das Relações Exteriores, disse em entrevista ao Zdf que estava preocupado com o possível retorno do Estado Islâmico a um aumento.

O Reino Unido sinalizou que fará o mesmo caso o Iraque mantenha sua decisão. "Estamos tentando convencê-los que é do seu interesse permanecer. Mas respeitamos a soberania iraquiana. Se eles exigem que partamos, esse é o direito deles e nós o respeitamos", afirmou o ministro da defesa Ben Wallace. Já a Dinamarca suspendeu suas operações com 200 pessoas após a morte de Qassem Soleimani, tanto na coalizão que combate o Estado Islâmico quanto na missão da OTAN em Bagdá.

As forças armadas canadenses estão temporariamente realocando alguns soldados para o Kuwait por questões de segurança, disse o chefe da equipe de defesa, general Jonathan Vance. O país tem cerca de 500 soldados no Iraque, a maioria dos quais está lá para ajudar a treinar forças locais para combater o Estado Islâmico, incluindo cerca de 200 com uma missão da OTAN no sul do país e mais de 200 soldados das forças especiais no norte.

Considerando a crescente tensão, as tropas da Letônia e da Polônia, decidiram interromper o treinamento das Forças de Defesa, conforme confirmado pelos Ministérios da Defesa dos países. A Croácia também disse que 14 de suas tropas foram transferidas para o Kuwait e sete voltaram para casa após a conclusão da missão, bem como a Eslováquia. "Levando em consideração a situação atual no Iraque que levou à suspensão das atividades da missão de treinamento da OTAN, sete soldados eslovacos foram temporariamente realocados para fora da área do Iraque de acordo com as regras de segurança", afirmou o primeiro-ministro deste último, Peter Pellegrini.

"Uma parte de nossas forças armadas no Iraque já foi realocada", disse o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, na terça-feira em sua primeira reação após o ataque com um drone que matou o general iraniano Qasem Soleimani. O Ministério da Defesa da Romênia já havia anunciado anteriormente a "suspensão temporária" da "órgão de instrução das tropas iraquianas" na Romênia. Segundo o ministério, "os 14 militares romenos que estavam em missão no Iraque" seriam "temporariamente realocados para outra base da coalizão".

França ficará "para combate ao terrorismo"

A França, por outro lado, não tem planos de reduzir o número de militares do Iraque, informou uma fonte do governo francês nesta terça-feira. A ministra dos Exércitos, Florence Parly, disse no Twitter que, diante dos eventos em Bagdá, a França já havia reforçado a segurança de seus 160 soldados Ela reiterou que a prioridade de Paris é a luta contra o terrorismo.

“Há 5 anos, o terrorismo matou em Paris e depois em Montrouge. Penso hoje em todas as vítimas, suas famílias, seus entes queridos. Nenhuma palavra pode traduzir sofrimento, nem solidão na provação. A luta contra o terrorismo é a prioridade número 1 de nossos exércitos. Contra o Daesh, contra a Al-Qaeda, no Levante, no Sahel ou em outro lugar, essa defesa avançada é essencial para a proteção da Nação”, disse “Continuaremos esta missão primordial com vigor e determinação intactos em 2020”, escreveu.

Parly frisou que a prioridade hoje “é a mesma de ontem e deve ser a de amanhã: luta contra o Daesh, seu ressurgimento no Levante, sua propaganda na internet”. “É por isso que o alívio das tensões no Iraque e na região é essencial: a coalizão internacional anti-Daesh deve poder continuar sua missão. No contexto atual, a França pede ao Irã que não contribua para a escalada e retorne ao pleno respeito pelo acordo nuclear. A França continuará sendo uma força de equilíbrio, e os exércitos contribuirão com sua postura de firmeza e moderação”, completou.

Os militares italianos continuam no Iraque, mas haverá reposicionamento. “Não há possibilidade de retirada”, explica nota do Estado-Maior da Defesa, que afirma que a sede da Coalizão Internacional que opera no Iraque "atualmente está planejando uma redistribuição parcial de ativos fora de Bagdá". Especifica-se que isso "não representa uma interrupção da missão e compromissos assumidos" pela Itália com parceiros internacionais e que a decisão foi tomada no "nível internacional do café da manhã". O La Stampa reporta que 50 carabinieri baseados na capital foram transferidos por razões de segurança para outro composto considerado mais seguro.

A Eslovênia também ficará em sua base de Erbil, no norte do Iraque, afirmou o titular da pasta de Defesa, Karl Erjavec. "As tropas das Forças Armadas da Eslovênia no Iraque estão seguras. Estimamos que a situação nesta parte do Iraque seja bastante estável, estamos de olho na situação". Ao todo, são seis pessoas.

O Ministro das Relações Exteriores da República Tcheca afirmou que seria prematuro discutir a retirada. “Depois que a OTAN suspendeu sua missão de treinamento para as forças de segurança iraquianas, na qual a República Tcheca tem soldados e policiais, entendeu-se que permaneceríamos no local e aguardaríamos o resultado de consultas com o governo iraquiano sobre como proceder. O apelo do Parlamento iraquiano foi feito sem a presença de deputados curdos e sunitas e, além disso, não é juridicamente vinculativo”, defendeu Tomáš Petříček.

Falando no programa de rádio matinal da RTL, o ministro de Relações Exteriores da Bélgica, Philippe Goffins, disse que os militares da aliança militar da OTAN, entre os quais há um "punhado" de soldados belgas, permaneceriam dentro de complexos militares na área até novo aviso. Ele disse que a resolução representou o ponto de vista de “alguns iraquianos” sobre a presença de tropas estrangeiras, dizendo que o governo não tinha obrigação de seguir adiante com a votação.

O ministro das Relações Exteriores da Estônia, Urmas Reinsalu, disse em entrevista ao portal de notícias da emissora pública ERR que o precedente criado pelo ataque dos EUA não é capaz de mudar a dinâmica das relações internacionais como um todo. "Sem dúvida, a área em que nossas tropas estão atualmente na missão dos EUA - as avaliações de ameaças são feitas com frequência - permanece fora do centro de crise aguda de Bagdá", analisa, indicando que os soldados não saíram do país.

Atualmente, quinze lituanos estão posicionados na Missão da OTAN no Iraque e na Coalizão Global para derrotar o EI, informou o ministério das Relações Exteriores em comunicado à imprensa. "Levando em conta a deterioração da situação de segurança e as mudanças na posição do governo do país (Iraque), os comandantes internacionais tomaram medidas adicionais para garantir a proteção do pessoal: o nível de segurança nas bases militares foi elevado, foram impostas limitações ao movimento do pessoal militar, treinamento atividades foram interrompidas ", afirmou.

 

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