Países ocidentais veem "sinais positivos" na crise ucraniana após início da retirada russa

Países ocidentais veem "sinais positivos" na crise ucraniana após início da retirada russa

Parte dos 100 mil soldados mobilizados por Moscou está voltando para os quartéis

AFP

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Líderes dos países ocidentais afirmaram, nesta terça-feira, que viram "sinais positivos" após a retirada parcial das tropas russas na fronteira com a Ucrânia, cuja presença gerava temores há semanas de uma invasão.

O ministério russo da Defesa anunciou, pouco antes de um encontro em Moscou entre o chanceler alemão Olaf Scholz e o presidente Vladimir Putin, que uma parte dos 100 mil soldados mobilizados estava voltando para seus quartéis nesta terça-feira. Divulgou várias imagens com tanques carregados em um trem.

O presidente russo confirmou esta "retirada parcial", mas nem o Kremlin nem o exército detalharam a magnitude da retirada. Paralelamente, a Rússia segue realizando manobras militares em Belarus, vizinha da Ucrânia, que serão concluídas em 20 de fevereiro.

"O fato de sabermos agora que algumas tropas estão sendo retiradas é um bom sinal. Esperamos que outras sigam" o exemplo, declarou Scholz em entrevista coletiva junto a Putin.

Pouco antes, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, manifestou seu "otimismo prudente", mas disse que esperava um "sinal de desescalada".

"As palavras são boas. Mas esperamos ações", disse por sua vez o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian.

A retirada de algumas tropas foi bem recebida na Ucrânia, cujo ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, afirmou que seu país, junto a seus aliados ocidentais, "conseguiu impedir uma nova escalada russa".

Putin alegou que "é óbvio" que não quer uma guerra, mas reiterou que a expansão da Otan e o desejo da Ucrânia de fazer parte da aliança eram uma ameaça para a Rússia.

Putin e Scholz insistiram em querer um processo de negociações sobre as questões de segurança na Europa.

"O caminho da negociação"

Os países ocidentais e Moscou precisam chegar a um compromisso "sem abandonar seus princípios", disse o chanceler alemão.

"Estamos dispostos a seguir o caminho da negociação", respondeu Putin, mas criticou a rejeição de suas principais exigências, as quais "infelizmente não receberam uma resposta construtiva".

Essas reivindicações são o fim da política expansionista da Aliança Atlântica, o compromisso de não implementar armas ofensivas perto das fronteiras russas e a retirada de infraestruturas da Otan das fronteiras de 1997, antes de a organização não receber ex-membros do bloco soviético.

Os ocidentais classificaram as demandas russas como inaceitáveis, mas propuseram um diálogo em outras questões como a limitação do armamento.

Nas ruas de Kiev, havia um otimismo relativo. "Não há pânico na sociedade", explicou Artem Zalouzny, um advogado de 22 anos, no centro da capital.

Mas "confiar totalmente (em uma desescalada) não seria inteligente", disse.

Na segunda-feira, a Rússia apresentou um pequeno sinal positivo quando seu ministro das Relações Exteriores, Serguéi Lavrov, afirmou que havia "uma possibilidade" de "resolver os problemas" pela via diplomática.

Em Washington, as autoridades alertaram que a invasão russa "poderia ocorrer a qualquer momento". A embaixada americana em Kiev foi transferida para Lviv, ao oeste do país.

Dezenas de países pediram aos seus cidadãos que abandonem a Ucrânia, ignorando os apelos do presidente ucraniano Volodimir Zelenski, que pediu para não se deixar levar pelo pânico.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, denunciou nesta terça-feira uma campanha ocidental "absolutamente sem precedentes orientada a provocar tensões" e que a "histeria não tem nenhum fundamento".

"Dia de unidade"

A Rússia anexou a península da Crimeia em 2014 e apoia desde então os separatistas pró-russos que combatem no leste da Ucrânia.

O Parlamento russo pediu a Putin para reconhecer a independência dos territórios separatistas, uma iniciativa que foi imediatamente condenada pela União Europeia.

Alguns veículos da imprensa afirmaram que a suposta invasão russa da Ucrânia poderia começar na quarta-feira. Mais uma vez, Zelenski falou das especulações com uma dose de sarcasmo.

"Nos disseram que 16 de fevereiro será o dia do ataque. Vamos transformá-lo em um dia de unidade", disse, pedindo aos ucranianos que pendurem a bandeira nacional azul e amarela nesse dia.

Com o risco de irritar o Kremlin, o presidente ucraniano reiterou na segunda-feira que Kiev quer entrar na Otan para "garantir sua segurança".

Sua possível adesão ainda não está na agenda da Aliança e não há um calendário previsto para tratar desta questão.

Segundo Lavrov, muitos europeus "respirariam aliviados" se Kiev desistisse dessa ideia.


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