Papa faz visita histórica à Colômbia para impulsionar reconciliação
Pontífice passará por Bogotá, Villavicencio, Medellín e Cartagena
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A terceira visita de um pontífice à Colômbia - depois das de Paulo VI em 1968 e de João Paulo II em 1986 - será marcada por uma série de gestos, mais do que palavras, em prol da reconciliação. "É verdade que o papa chega a um país muito polarizado, mas sabe que todos os colombianos anseiam pela paz, uma paz com o espírito da solidariedade e da justiça. Uma paz possível somente se atacarem as causas da injustiça social, da desigualdade, da opressão", explica o arcebispo colombiano Octavio Ruiz, da delegação que acompanha o pontífice.
A única viagem do papa argentino este ano à região inclui as emblemáticas cidades de Bogotá, Villavicencio, Medellín e Cartagena, onde falará sobre família, religião e reconciliação entre as pessoas e com a natureza, dois dos temas centrais de seu pontificado. Francisco visita a Colômbia em um momento muito importante para a história desse país, que em 2016 assinou um acordo de paz que pôs fim a 52 anos de um conflito fratricida que deixou 260.000 mortos, 45 desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
Com o lema "Demos o primeiro passo", Francisco, que desde o início apoiou as negociações do país com o maior grupo guerrilheiro, propõe aos colombianos romper com o esse passado de violência e confrontos, e se comprometer de forma ativa para construir a paz.
Mediador
"Dar o primeiro passo significa reconhecer o sofrimento dos outros, perdoar os que nos feriram, voltarmos a nos ver como colombianos, entender a dor dos que sofreram, curar o nosso coração, descobrir o país que se esconde por trás das montanhas e construir um país em paz", resumiu o sacerdote colombiano Fabio Suescún, responsável pelo comitê de preparação da visita papal.
Francisco, de 80 anos, se apresenta na Colômbia como um mediador, e em novembro viajará para Mianmar e Bangladesh, cenário de um violento conflito religioso. O papa disse estar disposto a ouvir as partes, apesar de ter falhado na tarefa de reconciliar em dezembro o presidente Juan Manuel Santos e o ex-presidente Álvaro Uribe, ferrenho inimigo dos acordos de paz.
O primeiro papa latino-americano da História também tentará mobilizar os católicos da Colômbia - sétimo país do mundo com mais católicos - com a beatificação de dois sacerdotes em Villavicencio, vítimas da violência em momentos históricos diferentes. Ameaçada pelos novos movimentos religiosos protestantes, evangélicos e cristãos, cuja influência cresceu, a igreja católica colombiana organizou uma visita alegre, positiva, com um hino que mistura ritmos vallenatos
com rap, que será transmitida ao vivo pela televisão pública.
O líder da igreja católica dormirá todas as noites na sede da nunciatura apostólica de Bogotá, e de lá se deslocará todos os dias para as diferentes cidades, tal como fez no México em fevereiro de 2016. Sairá de Roma no dia 6 pela manhã em um voo da Alitalia e chegará na tarde deste mesmo dia ao país sul-americano. O papa se reunirá com o presidente Santos e outros ex-presidentes e dirigentes da Colômbia, assim como com a hierarquia da igreja católica venezuelana para falar da situação nesse país, mergulhado em uma grave crise política e social.
Francisco se deslocará em três papamóveis, sem luxos ou vidros blindados, fabricados localmente, para poder saudar as pessoas, respeitando o seu costume de deixar ser tocado e de abraçar os fiéis, apesar dos riscos que isto envolve. Fiel a sua sensibilidade, Francisco homenageará diante de seu túmulo, em Cartagena, o jesuíta São Pedro Claver, uma das figuras mais carismáticas do Cristianismo no século XVII e grande defensor dos escravos.