Mundo

Paz proclamada por Trump no Oriente Médio enfrenta medidas tênues e desafios de Hamas e Israel

Países se comprometem com cúpulas para reconstruir Gaza e criar “visão de paz”, mas caminho é imprevisível

Cerimônia "Paz 2025" reuniu 27 líderes no Egito
Cerimônia "Paz 2025" reuniu 27 líderes no Egito Foto : Saul Loeb / AFP / CP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, proclamou nesta segunda-feira a "paz no Oriente Médio". No entanto, o cessar-fogo temporário entre Israel e Hamas é um primeiro passo de um roteiro pouco definido para garantir alguma estabilidade à região. Na localidade turística de Sharm el-Sheikh, no Egito, Trump copresidiu a cúpula sobre Gaza ao lado de seu colega Abdel Fattah al Sissi, na presença de numerosos líderes internacionais, mas sem Netanyahu nem o Hamas.

O presidente da Autoridade Palestina que administra parcialmente a Cisjordânia, Mahmoud Abbas, esteve presente e se reuniu com Trump. O republicano recebeu os líderes em um tapete vermelho. Atrás de uma inscrição gigante que dizia "PAZ 2025". Junto com os líderes de Egito, Catar e Turquia, firmou posteriormente uma declaração sobre Gaza, como garantidor. Nela, eles se comprometem a "buscar uma visão de paz" no Oriente Médio.

Contudo, esse documento, publicado ao final do dia pela Casa Branca, limita-se a termos vagos sobre a necessidade de conseguir uma "paz duradoura" entre Israel e seus vizinhos, incluídos os palestinos. Por sua vez, Al Sissi anunciou que seu país acolherá uma conferência sobre a reconstrução de Gaza, sem apresentar datas.

Pressionado por Trump a aceitar a interrupção de agressões, o governo de Israel também não teve protagonismo na cerimônia. Benjamin Netanyahu já declarou, em sua imprensa local, que "a guerra não acabou". O Hamas descartou abandonar posições em Gaza.

Ao longo do dia, os últimos 20 reféns vivos em poder do Hamas foram entregues em duas fases ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). A maioria dos 251 sequestrados durante o ataque de 7 de outubro foram libertados durante duas tréguas anteriores em Gaza.

A guerra em Gaza eclodiu após o ataque do Hamas em território israelense, que resultou na morte de 1.219 pessoas, a maioria civis, de acordo com uma contagem baseada em dados oficiais israelenses. Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que devastou a Faixa de Gaza, provocou uma catástrofe humanitária e deixou 67.869 mortos, também civis em sua maior parte, segundo um balanço atualizado nesta segunda pelo Ministério da Saúde do governo do Hamas.

"É hora de permitir a entrada de ajuda humanitária em larga escala, particularmente através da UNRWA", manifestou em comunicado nesta segunda o diretor-geral dessa agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos, Philippe Lazzarini.

Além da trégua, a primeira fase do plano de paz de Trump inclui a retirada das tropas israelenses de partes de Gaza e o retorno dos 47 reféns restantes mantidos em cativeiro no território palestino, 27 dos quais morreram.

Não obstante, o Exército israelense anunciou nesta segunda a entrega de apenas quatro corpos de reféns através da Cruz Vermelha: "O Hamas deve respeitar o acordo e tomar as medidas necessárias para devolver todos os reféns mortos", advertiu. O grupo islamista, por sua vez, comemorou "a libertação dos prisioneiros palestinos das prisões da ocupação (Israel)" como "um êxito nacional no caminho rumo à libertação total".

A proposta de Trump também prevê, em uma fase posterior, o desarmamento do Hamas e sua exclusão do governo do território, onde o movimento tomou o poder em 2007. Contudo, o grupo aliado do Irã não se pronunciou sobre deixar as armas e exige a retirada total de Israel da Faixa de Gaza, cujo Exército controla 53% atualmente. Um responsável do Hamas disse que tudo indica que será uma segunda fase "difícil".