Presidente da Guatemala renuncia após acusação de corrupção

Presidente da Guatemala renuncia após acusação de corrupção

Porta-voz presidencial disse que Pérez quis manter institucionalidade do país

AFP

Presidente da Guatemala renuncia após acusação de corrupção

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O presidente da Guatemala, Otto Pérez, renunciou ao cargo na noite dessa quarta-feira para se submeter a um processo judicial por acusações de corrupção, a apenas três dias das eleições gerais. "O senhor presidente da República da Guatemala Otto Pérez Molina apresentou sua renúncia", anunciou o porta-voz presidencial, Jorge Ortega, em um comunicado. Ortega explicou que a renúncia foi apresentada ao Legislativo um dia após este organismo decidir por unanimidade retirar sua imunidade.

Ortega disse que Pérez renunciou "para manter a institucionalidade do país" e "a figura da presidência afastada do processo judicial". A renúncia do presidente ocorreu quase ao mesmo tempo em que um juiz emitiu uma ordem de captura contra ele. O agora ex-governante se apresentará a um juiz que preside a investigação às 8h locais (11h de Brasília), disse Ortega.

Após a saída de Pérez, o máximo cargo político do país será assumido pelo vice-presidente Alejandro Maldonado. Em uma decisão histórica e em meio a celebrações da população, nessa terça-feira 132 deputados presentes em uma sessão legislativa votaram de forma unânime pela retirada da imunidade do presidente.

A renúncia de Pérez ocorre três dias antes de os guatemaltecos comparecerem às urnas para eleger o novo presidente, vice-presidente, 338 prefeitos, 158 deputados e 20 representantes do Parlamento Centro-Americano, em eleições marcadas pela crise política gerada por vários casos de corrupção no governo que provocou grandes protestos de repúdio.

Para evitar possíveis manifestações violentas, nessa quarta-feira o escritório na Guatemala do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos humanos (Oacnudh) anunciou que permanecerá em vigilância com equipes em várias regiões do país. O anúncio da renúncia de Pérez ocorreu horas após o juiz Miguel Ángel Gálvez, a cargo do processo, emitir uma ordem de captura contra ele.

Julia Barrera, porta-voz do Ministério Público, explicou que no momento em que Pérez se apresentar ao juiz, o ente acusador solicitará sua ligação ao processo judicial e pedirá prisão preventiva, uma medida que, se for aprovada, teria de qualquer forma significado a destituição automática de suas funções.

Ocaso de um presidente 

Pérez foi acusado em 21 de agosto pelo Ministério Público e por uma comissão da ONU contra a impunidade na Guatemala de ser um dos líderes de uma rede chamada "La Línea", dedicada à cobrança de propinas a empresários para a sonegação de impostos no sistema nacional alfandegário. Atingida pelo mesmo escândalo, a ex-vice-presidente Roxana Baldetti, que renunciou em 8 de maio, encontra-se em prisão preventiva.

Antes da renúncia do presidente, a Corte de Constitucionalidade (CC), a máxima instância judicial do país, rejeitou os recursos de amparo a favor do presidente. "O plenário (de cinco magistrados) da Corte de Constitucionalidade (CC) se reuniu neste dia (quarta-feira) e decidiu, por unanimidade, não conceder amparo provisório ao senhor presidente Otto Pérez", disse o organismo em um comunicado.

A procuradora-geral Thelma Aldana, em entrevista, afirmou que o processo penal contra Pérez deve terminar com uma sentença condenatória. "Há uma acusação penal (contra Pérez) e iremos a debate. Depois a uma sentença, que de acordo com minha apreciação e do que conheço do caso, terá que ser condenatória", afirmou Aldana.

A Prêmio Nobel da Paz e líder indígena Rigoberta Menchú disse que a convulsão social que o país está vivendo é um renascer da população, indignada pela corrupção estatal. "É um grande despertar da população, é um despertar consciente, mas também é um exemplo cívico. Fico impressionada com a integração das marchas, pacíficas e multissetoriais", afirmou a premiada. "Este país foi dividido pela violência, pela tragédia, pelo engano", acrescentou, depois de criticar Pérez por considerá-lo uma pessoa perigosa por seu passado de militar contra-insurgente, que teria participado do genocídio de indígenas durante os 36 anos de guerra no país (1960-1996).

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