Presidente de Mianmar renuncia ao cargo

Presidente de Mianmar renuncia ao cargo

País é acusado de realizar limpeza étnica contra povo rohingya

AFP

Presidente de Mianmar renuncia ao cargo

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O presidente de Mianmar, Htin Kyaw, muito próximo e sempre à sombra da líder Aung San Suu Kyi, renunciou nesta quarta-feira a seu cargo, após dois anos à frente da nação, no momento em que país enfrenta as críticas internacionais pela crise dos rohingyas. "O presidente de Mianmar, Htin Kyaw, renunciou em 21 de março a suas funções", afirma um comunicado publicado no Facebook. O sucessor será designado no prazo de sete dias úteis.

O intelectual de 71 anos, filho de um poeta birmanês de muito prestígio e amigo de infância de Aung San Suu Kyi, se tornou em abril de 2016 o primeiro civil a ocupar a presidência do país desde 1962. Kyaw passou dois anos à sombra de Aung San Suu Kyi, que não pode assumir o posto de chefe de Estado por motivos constitucionais.

A presidência não divulgou um motivo para a renúncia, mas Htin Kyaw perdeu peso nos últimos meses e a imprensa fazia especulações sobre a sua saúde. O governo informou que o presidente deseja "ter um descanso de suas funções atuais". O vice-presidente birmanês, Myint Swe, um ex-general, vai ocupar o cargo até a designação de um novo presidente, como prevê a Constituição.

Htin Kyaw era muito respeitado e considerado uma figura absolutamente leal a Suu Kyi, que em 2016 afirmou após as eleições que estaria acima da função presidencial. A Constituição birmanesa proíbe que uma pessoa que tem filhos estrangeiros, o caso de Suu Kyi, ocupe o cargo de presidente.

"Se for alguém próximo a Aung San Suu Kyi, as coisas devem prosseguir com normalidade, já que o posto de presidente é claramente honorário desde a criação do cargo de conselheira de Estado, ocupado por Aung San Suu Kyi", afirmou o analista Mael Raynaud. A situação representa um novo desafio para Suu Kyi, que encarnou grandes esperanças quando assumiu o poder no país em 2016.

Mianmar é acusada pela ONU de ter realizado uma limpeza étnica da população rohingya, uma minoria muçulmana que vive na região oeste do país. Quase 700.000 deles buscaram refúgio em Bangladesh para fugir da violência. Aung San Suu Kyi mantém a popularidade entre os birmaneses, mas a vencedora do Nobel da Paz de 1991 foi acusada pela comunidade internacional por sua falta de compaixão a respeito dos rohingyas e por seu silêncio sobre o papel do exército.

O Museu do Holocausto de Washington retirou o prêmio Elie Wiesel que havia concedido a Suu Kyi em 2012 por sua luta contra a ditadura. Mitos birmaneses, influenciados por um forte nacionalismo budista, consideram os rohingyas como estrangeiros e acreditam que eles representam uma ameaça ao predomínio budista no país.




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