Principal opositor do presidente Erdogan é detido sob acusação de “corrupção” na Turquia
Detenção provocou uma forte desvalorização da lira turca em relação ao dólar

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O prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal opositor do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, foi detido nesta quarta-feira (19). O mesmo ocorreu com dezenas de colaboradores e deputados e integrantes de seu partido, que denuncia um "golpe de Estado" contra a oposição.
O popular e carismático prefeito é acusado de "corrupção" e, segundo a agência oficial Anadolu, de "terrorismo".
No próximo domingo, o prefeito seria proclamado candidato de seu partido nas próximas eleições presidenciais. Ele foi levado para um centro policial, segundo pessoas próximas.
Um vídeo publicado na rede social X mostra o prefeito de 53 anos denunciando a operação contra sua residência: "Centenas de policiais chegaram à minha porta. Confio em minha nação", disse.
A detenção provocou uma forte desvalorização da lira turca em relação ao dólar e o fechamento temporário da Bolsa de Istambul devido a uma queda de 6,87% do índice de referência.
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Antes do amanhecer
"Os policiais chegaram logo depois da 'zahora' (a refeição antes do amanhecer durante o Ramadã). Ekrem começou a se preparar. Saíram de casa por volta das 7h30", declarou a esposa do prefeito, Dilek Imamoglu, ao canal de televisão privado NTV.
Segundo um comunicado do gabinete da Procuradoria Istambul, Imamoglu é acusado de corrupção e extorsão, além de ser apontado como o líder de uma "organização criminosa com fins lucrativos".
A agência Anadolu também menciona acusações de "terrorismo" e de "ajuda ao PKK", o ilegal Partido dos Trabalhadores do Curdistão, contra o prefeito e outros seis suspeitos.
O governador de Istambul proibiu comícios e manifestações até domingo, mas muitos apoiadores do prefeito seguiram para a sede da prefeitura, cercada por barricadas.
A emblemática praça Taksim, no centro de Istambul, local tradicional de manifestações, está completamente fechada.
"Estamos em uma ditadura", disse um lojista que se identificou apenas com o primeiro nome, Kuzey.
"Esse cara e seu grupo sujo nos odeiam. Quando precisam lidar com alguém forte, fazem algo ilegal", acrescentou, em referência a Erdogan.
Özgur Özel, presidente do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), a legenda de Imamoglu, denunciou "um golpe de força para obstruir a vontade do povo" e "contra o próximo presidente" da Turquia.
Assédio judicial
"O que aconteceu esta manhã é nada menos que um golpe de Estado contra o principal partido da oposição, com consequências de longo alcance para o futuro político do país", disse Berk Esen, cientista político da Universidade Sabanci de Istambul.
"Esta decisão empurra a Turquia ainda mais pelo caminho da autocracia, seguindo o exemplo da Venezuela, Rússia e Belarus", acrescentou.
Imamoglu é o único na disputa para representar seu partido nas próximas eleições presidenciais, previstas para 2028.
Na terça-feira, a Universidade de Istambul anulou seu diploma, o que adicionou um novo obstáculo à sua candidatura.
A Constituição determina a obrigatoriedade de um diploma universitário para qualquer candidato ao cargo de chefe de Estado.
Imamoglu classificou a decisão como "ilegal" e anunciou que pretende recorrer nos tribunais. O prefeito é alvo de outras cinco investigações judiciais, duas delas iniciadas em janeiro.
Em 2023, Imamoglu foi impedido de fato de disputar a eleição presidencial devido a uma condenação com suspensão condicional da pena por "insultos" contra integrantes do Comitê Eleitoral Turco.