Procurador especial diz que sua investigação "não isenta Trump"

Procurador especial diz que sua investigação "não isenta Trump"

Robert Mueller apura possível influência russa nas eleições de 2016

AFP

Mueller passa por sabatina na Câmara dos Deputados

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O procurador especial que estudou o envolvimento russo nas eleições americanas, Robert Mueller, disse nesta quarta-feira em uma audiência diante do Congresso dos Estados Unidos que suas investigações não isentam o presidente Donald Trump.

Indagado se sua investigação exonerou totalmente Trump, Mueller respondeu "não", mesmo depois de ter declarado no início da sabatina do Comitê Judicial da Câmara dos Deputados que não poderia responder a todas as perguntas que seriam feitas. "Por exemplo, não posso responder a perguntas sobre as investigações do FBI na Rússia", afirmou no início do procedimento.

Na sombra

Nascido em agosto de 1944, Mueller é dois anos mais velho do que Trump. Assim como o presidente, é de uma família de boa situação do Nordeste dos Estados Unidos e também frequentou instituições acadêmicas de prestígio. As semelhanças param por aqui. A personalidade extravagante e onipresente na mídia do agora presidente contrasta com a calculada austeridade de Mueller. Sempre vestido de terno escuro, Mueller não busca os holofotes.

Em 2008, em um discurso para comemorar o aniversário do FBI, citou o tenista Arthur Ashe, para quem "o verdadeiro heroísmo é notavelmente sóbrio e muito pouco espetacular". Desde que foi nomeado para dirigir a investigação sobre a trama russa, em maio de 2017, sempre tomou cuidado para permanecer na sombra, enquanto coletava informações. 

Nunca falou com a imprensa, permitindo que seu porta-voz emitisse apenas um lacônico "sem comentários". Sua bússola? A verdade, segundo ele. "Um dia me disse: 'Certifique-se bem de que o que você revela seja verdade'", contou à revista "GQ" John Miller, um de seus ex-subordinados no FBI. O presidente Trump sempre procurou não atacá-lo diretamente, embora tenha, em diferentes momentos, classificado a investigação como uma "caça às bruxas". Também acusou o procurador de ser "parcial", mas sem a virulência que costuma usar em seus tuítes. 

Respeitado

Robert Mueller é um ex-oficial dos Marines e foi reconhecido por seu valor em combate durante a Guerra do Vietnã. Esta é outra diferença em relação a Trump, que se livrou da guerra por razões médicas. Depois, dedicou sua vida ao serviço público, enquanto Trump fazia fortuna no setor imobiliário. Após os estudos em Direito, Mueller serviu como procurador, investigando com a mesma tenacidade o grupo Hells Angels, a máfia, ou os banqueiros desonestos.

Como número dois do Departamento da Justiça na presidência de George Bush pai, supervisionou a investigação pela explosão do avião da Boeing sobre a localidade escocesa de Lockerbie. O episódio deixou 270 mortos em 1988. 

Mueller foi nomeado diretor do FBI uma semana antes dos ataques de 11 de setembro de 2001 e permaneceu no cargo por 12 anos. Foi o mandato mais longo depois do recorde do fundador desta agência, Edgar Hoover. Uma prova de sua independência foi que, em 2004, ameaçou renunciar se o presidente George W. Bush insistisse no polêmico programa de escutas extrajudiciais.

Quando seu mandato de dez anos estava perto do fim, o presidente democrata Barack Obama lhe pediu, em 2011, que permanecesse no comando do FBI. Outra prova do respeito unânime é que essa extensão foi aprovada por 100% dos senadores.


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