Rússia substitui general enquanto referendos de anexação continuam na Ucrânia

Rússia substitui general enquanto referendos de anexação continuam na Ucrânia

País tem tido dificuldades logísticas em invasão iniciada ainda em fevereiro

AFP

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Moscou substituiu, neste sábado, seu principal oficial de logística após uma série de reveses na ofensiva na Ucrânia, enquanto os referendos de anexação à Rússia continuam nas regiões leste e sul controladas por Moscou, uma votação chamada de "farsa" por Kiev e seus aliados ocidentais.

A mudança no Estado-Maior ocorre em meio a uma grande campanha de mobilização militar na Rússia e a dificuldades logísticas no conflito, no qual Kiev recupera cada vez mais território. "O general Dmitri Bulgakov foi dispensado de suas funções como vice-ministro da Defesa" e será substituído pelo coronel-general Mikhail Mizintsev, de 60 anos, informou o Ministério da Defesa.

Além disso, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou hoje uma lei que endurece as penas para crimes cometidos em tempos de mobilização militar e que punirá a rendição voluntária, a recusa em lutar, ou a deserção, com até dez anos de prisão. A mobilização parcial anunciada por Putin na quarta-feira será, provavelmente, um dos primeiros grandes desafios logísticos do novo vice-ministro, já que as centenas de milhares de reservistas convocados precisarão ser equipados e treinados antes da mobilização.

Já a votação sobre se a Rússia deve anexar quatro regiões da Ucrânia teve início na sexta-feira, sete meses após a invasão das tropas de Moscou. "Os referendos da Rússia são uma farsa, um falso pretexto para tentar anexar partes da Ucrânia à força, em flagrante violação do direito internacional", denunciou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

A votação provocou até uma reação da China, com seu ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, dizendo a seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, que "a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas". Os referendos estão sendo realizados nas áreas controladas pelos russos em Donetsk e Lugansk, no leste, e Kherson e Zaporizhzhia, no sul.

As autoridades irão de porta em porta durante quatro dias para coletar votos, e as assembleias de voto serão abertas na terça-feira para que os moradores possam votar no último dia. "Em última análise, as coisas estão caminhando para a restauração da União Soviética. O referendo é um passo para isso", comentou Leonid, um militar de 59 anos, em conversa com a AFP.

Sem legitimidade

A anexação das quatro regiões da Rússia representaria uma escalada do conflito, já que Moscou consideraria qualquer movimento militar na zona como um ataque ao seu próprio território. Os referendos foram anunciados esta semana, depois que uma contraofensiva ucraniana permitiu a retomada da maior parte da região de Kharkiv, após meses de ocupação russa.

Na sexta-feira, os países do G7 afirmaram que os referendos "nunca serão" reconhecidos e que não têm "qualquer efeito legal, ou legitimidade". Também ontem, os investigadores da ONU acusaram a Rússia de cometer crimes de guerra na Ucrânia, listando bombardeios, execuções, torturas e atos de violência sexual.

Erik Mose, presidente da Comissão de Inquérito - uma equipe criada pelo Conselho de Segurança em março deste ano - disse ter visto evidências de um "grande número de execuções", bem como de estupros e tortura de crianças. Na região de Kharkiv, as autoridades ucranianas anunciaram a exumação de 447 corpos de uma floresta perto da cidade de Izium, recentemente retomada dos russos.

"A maioria tinha sinais de morte violenta e 30 sinais de tortura", descreveu o governador regional de Kharkiv, Oleg Synegubov. O Kremlin acusa Kiev de fabricar provas de supostos crimes de guerra. Putin garantiu esta semana que protegeria o território russo por "todos os meios", enquanto o ex-presidente e atual número dois do Conselho de Segurança do país, Dmitri Medvedev, destacou que isso envolveria até o uso de "armas nucleares estratégicas".

Moscou começou a mobilização militar obrigatória na quinta-feira, enquanto muitos homens deixavam a Rússia em massa antes de serem forçados a se alistar. Alguns não conseguiram evitá-la, como Mikhail Suetin, de 29 anos. Preso em Moscou durante um protesto contra a mobilização, ele recebeu, logo depois, ordem para ir ao "front". "Eu esperava o procedimento normal: prisão, delegacia, tribunal (...) Mas me disseram: 'Amanhã você vai para a guerra'", contou.


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