Senado dos EUA começa debate de julgamento político contra Trump

Senado dos EUA começa debate de julgamento político contra Trump

O processo começou com um debate sobre as regras, que confronta republicanos e a oposição democrata

AFP

Presidente americano considera o julgamento uma "caça às bruxas"

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O histórico julgamento político contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começou nesta terça-feira no Senado, com um debate sobre as regras do processo que será analisado por uma bancada na qual os republicanos são a maioria. 

Quatro meses depois do surgimento do escândalo ucraniano e a dez meses das eleições presidenciais, os 100 senadores se reuniram no Congresso para iniciar um julgamento que, muito provavelmente, terminará com um resultado favorável a Trump, já que o republicanos possuem 53 cadeiras nesta casa legislativa. 

Os senadores devem decidir num tribunal que tem à frente o presidente da Corte Suprema, John Roberts, sobre as acusações feitas a Trump no mês passado pela Câmara de Representantes, controlada pelos democratas: abuso de poder e obstrução ao Congresso.

Trump se tornou o terceiro presidente na história do país a ser julgado num processo de impeachment, depois de Andrew Johnson, em 1868, e de Bill Clinton, em 1999.

O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnel, apresentou um projeto de resolução sobre o procedimento com o qual busca estabelecer restrições às provas da investigação e à participação de testemunhas, além de buscar acelerar o processo. "A estrutura básica que estamos propondo é igualmente justa e equilibrada", disse McConnell. "Não há razão para que a votação desta resolução possa ser algo remotamente partidário", acrescentou.

O roteiro processual sugere que os argumentos serão apresentados em sessões de 12 horas, que começarão às 13H00 hora local (15H00 de Brasília) e se estenderão pela madrugada. A presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, acusou McConnell de querer "esconder a verdade do Senado e do povo americano".

Antes do início do debate, McConnell defendia um processo rápido e alegava que o pedido democrata de incluir depoimentos de funcionários da Casa Branca é um privilégio constitucional da presidência. "Procurar essas testemunhas pode atrasar o julgamento e nos arrastar para uma complexa batalha legal sobre o privilégio profissional", defendeu McConnell, para quem isso pode ter repercussões permanentes sobre a essência dos Poderes do Estado e a "instituição presidencial".

Os democratas querem o testemunho de funcionários do alto escalão do governo, como o chefe de gabinete de Trump, Mick Mulvaney, e o ex-assessor de Segurança Nacional John Bolton, com a expectativa de que eles forneçam detalhes das conversas do presidente com o governo da Ucrânia. Bolton disse que estava disposto a testemunhar, se convocado.

Para o líder da bancada democrata no Senado, Chuck Schumer, esse processo parece "elaborado por e para Trump" e criticou McConnell pro apresentar seu projeto de resolução com as regras do processo na véspera do início do julgamento.

As acusações

Segundo a acusação, Trump tentou pressionar a Ucrânia a interferir a seu favor nas eleições de 2020, sugerindo ao presidente do país europeu que investigasse os negócios do filho de Joe Biden, um dos pré-candidatos democratas com mais chances de enfrentá-lo no pleito presidencial de novembro. Depois, de acordo com a oposição, o presidente americano obstruiu o trabalho da investigação no Congresso ao recusar que seus principais assessores testemunhassem na fase de investigação do caso. Trump e Zelenski falaram ao telefone em 25 de julho, numa conversa durante a qual o presidente dos Estados Unidos pressionou o dirigente ucraniano a investigar Biden. 

De acordo com os democratas que lideraram a investigação, Trump pressionou a Ucrânia retendo cerca de 400 milhões de dólares em ajuda militar para o país, que está em conflito com rebeldes pró-Rússia no leste de seu território. Espera-se que os senadores votem de acordo com as diretrizes de cada partido. Como Trump tem o apoio da maioria republicana no Senado, é dada como certa a sua absolvição.

Vergonha nacional

Os democratas não pouparam críticas à forma como o processo está sendo conduzido no Senado. O legislador democrata Adam Schiff, responsável pela acusação contra Trump, disse que os republicanos buscam manter um processo "fraudado", reduzindo sua duração e estendendo as audiências até tarde da noite. "Esse é o processo para quem não quer que o povo americano veja as evidências", disse Schiff, que liderou a investigação contra Trump na Câmara de Representantes.

Schumer classificou o cronograma de McConnell como uma "vergonha nacional". Trump, que está em Davos para participar do Fórum Econômico Mundial, descreveu novamente o processo contra ele como "uma caça às bruxas que vem ocorrendo há anos e, francamente, é vergonhoso".


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